Quem frequenta ou frequentou o Barracão do Quinze sabe o que esse espaço representa: um reduto boêmio tradicional onde Rio Branco, no Acre, celebrava a cultura popular. Desde quando surgiu, no início do século 20, por que tornou-se palco de carnavais, shows e encontros de gerações? Descubra como esse local simples à beira do Rio Acre marcou história – e o que resta dele hoje.
A história do Barracão do Quinze
O Barracão do Quinze nasceu junto com a própria cidade. No começo do século XX, durante a Revolução Acreana, tropas brasileiras se instalaram na região do atual bairro Quinze, no Segundo Distrito de Rio Branco. Com o passar dos anos, o modesto acampamento militar deu lugar a um bairro popular, que se tornou um dos cenários preferidos para a cultura e festejos da capital. Da metade do século passado em diante, o Barracão do Quinze consolidou-se como um ponto de encontro da comunidade: foi palco de bailes de carnaval, festas juninas, shows de calouros e tantos outros eventos que entraram para a memória afetiva dos acreanos.
Origem e simbologia do nome
O nome Bairro Quinze não é por acaso: ele surgiu da presença do 15º Batalhão de Infantaria do Exército, enviado em 1903 para garantir a paz após meses de confronto entre brasileiros e bolivianos. A denominação “Quinze” faz referência direta a esse batalhão histórico e permanece até hoje como símbolo das raízes de Rio Branco. Já a palavra Barracão remete a um galpão ou armazém grande e simples – exatamente o perfil do espaço que abrigava os eventos no bairro. O termo evoca a arquitetura despojada e comunitária do local, reforçando seu espírito popular. Não por acaso, o Quinze é lembrado como “berço de Rio Branco”, tamanha sua importância na formação da cidade.
Localização exata e acessos
O Barracão do Quinze localizava-se no bairro Quinze, às margens do Rio Acre, no chamado Segundo Distrito de Rio Branco. A área fica próxima à antiga Praia da Base, um trecho ribeirinho que, nos verões, tornava-se point dos moradores junto ao rio. Para chegar lá, basta atravessar a Ponte Metálica (ponte Joaquim Macedo) ou a ponte JK, vindo do Centro, e seguir em direção ao bairro Quinze pelas vias locais. O local exato compreende as imediações da Rua 16 de Outubro e da Boulevard Augusto Monteiro, na curva do rio – justamente onde hoje se concentram obras de revitalização. Por ser uma das regiões mais antigas e tradicionais da capital acreana, o acesso é fácil e conhecido, com opções de transporte público e vias asfaltadas ligando o Quinze ao restante da cidade.
Estrutura física do local
Fisicamente, o Barracão do Quinze era um galpão simples de madeira, com telhado de zinco e pé-direito alto, típico das construções amazônicas voltadas a grandes reuniões. Sua arquitetura privilegiava a função: um salão amplo para abrigar bailes e apresentações, com um pequeno palco improvisado e decoração modesta. Não havia luxo – bancos de madeira encostados nas paredes, piso de cimento batido ou tábua, e iluminação básica – mas havia espaço de sobra para a alegria. Durante décadas, essa estrutura serviu de quartel-general da folia no bairro, abrigando tanto os ensaios da escola de samba local quanto festas de fim de semana. Com o tempo e a falta de manutenção, o velho barracão foi perdendo o vigor: partes da estrutura deterioraram-se e o que já foi um vibrante salão hoje dá lugar ao silêncio. Atualmente, pouco restou da edificação original; o cenário que antes brilhava em noites boêmias agora se mistura às obras da nova orla e às lembranças de quem viu aquele espaço lotado.
Vida cultural, boemia e memórias coletivas
Nos seus tempos áureos, o Barracão do Quinze fervilhava de vida cultural. Nas décadas de 1970 e 1980, era comum ter rodas de samba e bailes de carnaval animando o galpão – não por acaso, a escola de samba Unidos do Bairro Quinze brilhou nos carnavais acreanos dessa época. Paralelamente, o espaço abraçou outros ritmos e tribos: ganhou fama por noites de rock e festas “rebeladas” da juventude, em que os riffs de Legião Urbana e Barão Vermelho ecoavam pelo Quinze. Artistas locais e nacionais passaram por seu palco. Um registro famoso é de 1987, quando um jovem Zezé di Camargo se apresentou no Barracão e encantou o público – naquela época, o lugar era conhecido como “o point dos boêmios” de Rio Branco. Além das celebridades, foram as pessoas comuns que fizeram a alma do Barracão: casais que dançavam juntinhos ao som do bolero, amigos que varavam a madrugada tocando violão e jogando conversa fora, e famílias inteiras que se reuniam em festas comunitárias. Nos carnavais do Quinze, por exemplo, não faltavam as batalhas de confete e os blocos animados nas ruas de terra. Essas memórias coletivas permanecem vivas na cidade – quem viveu aqueles bailes guarda até hoje histórias calorosas e saudosas do reduto boêmio mais famoso do Segundo Distrito.
Situação atual
Hoje, o cenário do Barracão do Quinze é bem diferente. O antigo reduto boêmio já não funciona como antes – a estrutura original, enfraquecida pelo tempo, não recebe mais eventos, e o que restou do barracão integra agora um perímetro de obras de melhoria urbana. Em 2023, o governo iniciou a construção da Orla do Quinze, um amplo projeto de revitalização na margem do rio, abrangendo exatamente a área histórica do barracão. Com 372 metros de extensão, a nova orla inclui contenção da encosta para evitar a erosão e promete transformar a paisagem com calçadões, mirantes, quiosques e até um museu tecnológico. A iniciativa busca não só proteger o bairro contra as cheias do Rio Acre, mas também valorizar a história e o turismo local, resgatando a importância cultural do Quinze. Moradores antigos celebram esse renascimento: dona Vanda Milani, que vive há mais de 50 anos no bairro, afirma que a obra devolve a autoestima à comunidade e representa um momento de renascimento para o Quinze. A expectativa é de que, concluída a orla, a região volte a pulsar – agora de cara nova. “Vai virar o novo point de Rio Branco. Já estamos nos preparando para atender à nova demanda”, diz empolgado um comerciante local sobre as perspectivas após a revitalização. Ou seja, passado e futuro se encontram: o Barracão do Quinze pode não existir mais em sua forma antiga, mas seu espírito boêmio e acolhedor promete inspirar as próximas gerações nesse espaço renovado.
Em suma, o Barracão do Quinze permanece vivo na memória de Rio Branco. Cada história contada – dos carnavais gloriosos às noites de rock e serestas – reforça a aura quase lendária desse lugar. Com a revitalização em andamento, em breve o visitante poderá caminhar pela orla do bairro Quinze e imaginar as risadas e canções que um dia ecoaram naquele canto da cidade. Se você já viveu momentos no Barracão do Quinze, que tal compartilhar suas lembranças? E se nunca ouviu falar dele até agora, fica o convite: venha conhecer o novo cenário do Quinze, sentir de perto essa atmosfera histórica e, quem sabe, fazer parte do próximo capítulo dessa tradição boêmia acreana.
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