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Descoberta de câncer raro leva mãe a retirar metade da maxila em cirurgia de 13 horas

Ana Luiza Prestes

A cirurgiã-dentista Ana Luiza Prestes, de 29 anos, residente de São Bernardo do Campo, em São Paulo, enfrentou um dos maiores desafios de sua vida ao ser diagnosticada com carcinoma adenoide cístico, um tipo raro de câncer que atinge as glândulas salivares. Tudo começou em outubro de 2023, quando ela percebeu uma sensação de dormência no céu da boca, conhecida como parestesia. Inicialmente, o sintoma parecia inofensivo, mas logo evoluiu para dores na região da glândula salivar ao ingerir bebidas geladas ou ácidas. Com o passar dos meses, a dor se intensificou e se concentrou no céu da boca, acompanhada de dificuldade para respirar pela narina esquerda, o que a levou a buscar ajuda médica. Uma tomografia revelou a gravidade da situação: um tumor de 5 cm já ocupava a maxila, estrutura que inclui a base do nariz e parte da boca. O diagnóstico de câncer caiu como um golpe, especialmente para uma mãe jovem, com uma filha de apenas 1 ano e meio na época.

Receber a notícia foi devastador. Ana Luiza descreve o momento como o mais difícil de sua vida, marcado por um silêncio pesado do médico diante de sua pergunta sobre a possibilidade de morte. A incerteza e o medo tomaram conta dela, que ainda precisou reunir forças para comunicar a família. Voltar para casa e contar aos pais sobre a doença foi um processo doloroso, que a fez refletir sobre a fragilidade da vida. A descoberta do tumor mudou completamente sua rotina e perspectiva, exigindo decisões rápidas e um tratamento agressivo para combater a doença.

A pequena Cecília, filha de Ana Luiza, ainda era amamentada quando o diagnóstico veio à tona. A mãe precisou se despedir da filha na manhã da cirurgia, em um momento carregado de emoção, sabendo que passaria dias no hospital. O apoio da família, incluindo marido, pais e sogros, foi essencial para que ela enfrentasse o processo e para que Cecília recebesse cuidados durante sua ausência.

Tumor raro exige intervenção complexa e reconstrução facial

O carcinoma adenoide cístico é uma doença incomum, com incidência de aproximadamente 4,5 casos por 100 mil pessoas. Diferente de outros tipos de câncer, ele não responde à quimioterapia, o que limitou as opções de tratamento de Ana Luiza a cirurgia e radioterapia. Após a confirmação do diagnóstico por biópsia, ela foi internada rapidamente e transferida para Curitiba, no Paraná, onde passou por uma cirurgia extensa. O procedimento, que durou cerca de 13 horas, envolveu a remoção de metade da maxila, incluindo o céu da boca, dentes, o assoalho da órbita e ossos que sustentam o nariz e o olho esquerdo. A retirada foi feita com margem de segurança para evitar a permanência de células cancerígenas.

A reconstrução facial foi outro desafio. Inicialmente, os médicos utilizaram osso e pele da fíbula, na perna, para recompor a cavidade oral. No entanto, o enxerto não resistiu por falta de circulação sanguínea, levando a uma segunda cirurgia de emergência, na qual foi usada pele e musculatura da coxa. Após a recuperação inicial, Ana Luiza enfrentou 30 sessões de radioterapia para garantir que o tumor não retornasse. O processo foi longo e desgastante, mas a dentista manteve o foco na possibilidade de voltar à vida normal e estar ao lado da filha.

Dias na UTI marcaram o pós-operatório, seguidos por um período de adaptação em casa. A perda do primeiro enxerto trouxe mais uma etapa inesperada ao tratamento, exigindo resiliência física e emocional. Apesar das dificuldades, a equipe médica conseguiu remover todo o tumor, e os exames posteriores indicaram que a doença não voltou a se manifestar.

Ser mãe durante a luta contra o câncer

Ser mãe de uma criança pequena durante o enfrentamento de uma doença grave trouxe sentimentos ambivalentes para Ana Luiza. Por um lado, Cecília, que tinha 1 ano e 6 meses no início do tratamento, foi uma fonte de motivação. Por outro, o medo de não estar presente para a filha intensificou a angústia da dentista. Ela recorda o momento de amamentar Cecília pela última vez antes da cirurgia como um dos mais difíceis, sabendo que o desmame seria abrupto e que a separação temporária era inevitável.

Para preparar a filha, Ana Luiza criou uma história simples, explicando que a “mamãe” precisaria passar uns dias no médico e que ela ficaria com o pai e a avó. A narrativa, contada todas as noites, ajudou Cecília a entender a ausência da mãe em uma linguagem acessível. Enquanto isso, a família se mobilizou para oferecer suporte emocional e prático, revezando-se entre os cuidados com a criança e a presença no hospital.

A experiência também transformou a visão de Ana Luiza sobre a maternidade. Antes do diagnóstico, ela se cobrava para seguir padrões rígidos, como manter a amamentação em livre demanda até os dois anos da filha. A doença a obrigou a abandonar essas expectativas e a valorizar mais os momentos com Cecília, hoje com 2 anos e 11 meses, de forma mais leve e genuína.

Desafios da recuperação e impacto na rotina

Após a cirurgia, a recuperação de Ana Luiza foi marcada por altos e baixos. A necessidade de uma segunda intervenção para refazer o enxerto aumentou o desgaste físico, enquanto as 30 sessões de radioterapia, concluídas em 20 de março de 2024, representaram o fim da etapa mais intensa do tratamento. A família celebrou o marco com cartazes e flores, em um momento de emoção que ela guarda com carinho. Até o momento, os acompanhamentos médicos não indicam sinais de retorno do tumor, trazendo alívio após meses de incerteza.

A rotina de Ana Luiza mudou drasticamente após o tratamento. A perda de metade da maxila alterou funções básicas, como a respiração e a alimentação, exigindo adaptação. Além disso, a cirurgia deixou marcas visíveis, reconstruídas com tecidos da perna e da coxa, o que demandou um processo de aceitação pessoal. Apesar disso, ela destaca a força que encontrou na família e na fé para superar os obstáculos.

A experiência também trouxe lições práticas. Antes uma profissional ativa como cirurgiã-dentista, Ana Luiza precisou pausar a carreira para focar na saúde. Agora, aos poucos, ela retoma a vida, priorizando o tempo com Cecília e valorizando pequenas conquistas do dia a dia.

Como o carcinoma adenoide cístico afeta a vida dos pacientes

O carcinoma adenoide cístico é conhecido por seu crescimento lento, mas persistente, o que pode atrasar o diagnóstico em muitos casos. Originado geralmente nas glândulas salivares, ele pode se espalhar para outras áreas da cabeça e do pescoço, como a maxila, o ouvido ou a garganta. Especialistas apontam que a doença tem maior incidência em adultos entre 40 e 60 anos, mas casos como o de Ana Luiza, aos 29 anos, mostram que ela também pode atingir pessoas mais jovens.

Entre os principais sintomas estão:

  • Dormência ou formigamento em áreas da boca ou face;
  • Dor persistente na região afetada;
  • Dificuldade para respirar ou engolir, dependendo do tamanho do tumor;
  • Alterações na visão ou audição, em casos mais avançados.

O tratamento cirúrgico é a principal abordagem, muitas vezes seguido por radioterapia para reduzir o risco de recidiva. A reconstrução facial, como no caso de Ana Luiza, é comum quando o tumor compromete estruturas ósseas ou tecidos moles.

Cronologia do caso de Ana Luiza Prestes

A trajetória de Ana Luiza reflete a rapidez com que a doença pode progredir e a necessidade de intervenção imediata. Veja os principais marcos:

  • Outubro de 2023: Primeiros sintomas, como dormência no céu da boca, aparecem;
  • Meses seguintes: Dor e dificuldade para respirar levam à consulta com otorrino;
  • Novembro de 2023: Tomografia revela tumor de 5 cm na maxila;
  • Dezembro de 2023: Cirurgia de 13 horas em Curitiba remove metade da maxila;
  • Janeiro de 2024: Segunda cirurgia é realizada após perda do enxerto;
  • Março de 2024: Conclusão das 30 sessões de radioterapia.

Esse cronograma destaca a intensidade do tratamento e o curto intervalo entre o diagnóstico e as intervenções, algo comum em casos de tumores agressivos.

Transformação pessoal após a vitória contra o câncer

Vencer o câncer trouxe uma nova perspectiva para Ana Luiza. Ela relata que a experiência mudou sua relação com a vida, a família e a fé, fazendo-a enxergar a fragilidade das coisas e a importância de valorizar o que realmente importa. A dentista, que antes se preocupava com detalhes triviais, agora foca em estar presente para Cecília e em aproveitar os momentos com quem ama.

A maternidade, em especial, ganhou um novo significado. Ana Luiza abandonou a rigidez que antes guiava suas escolhas como mãe e passou a se conectar mais com as necessidades reais da filha. O desmame abrupto de Cecília, imposto pela cirurgia, foi um exemplo de como a vida a obrigou a abrir mão do controle e a encontrar leveza mesmo em meio ao caos.

A rede de apoio familiar foi um pilar essencial durante todo o processo. Marido, pais, sogros e irmãos se uniram para garantir que Ana Luiza tivesse suporte emocional e prático, enquanto Cecília recebia atenção e carinho. Essa solidariedade reforçou os laços familiares e deu à dentista a certeza de que não enfrentou a doença sozinha.

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