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Ansiedade ou doença? Tristeza ou depressão? Entenda os sinais dos transtornos mentais

Ansiedade e Depressão

O Brasil enfrenta uma crise silenciosa que impacta diretamente a vida de trabalhadores e a economia do país. Em 2024, mais de 470 mil afastamentos do trabalho foram registrados por transtornos de saúde mental, um recorde em dez anos, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Desses, 141 mil foram motivados por ansiedade e 113 mil por depressão, números que refletem um aumento de 68% em relação a 2023, quando 283 mil licenças foram concedidas por essas razões. A escalada evidencia não apenas a gravidade das condições psicológicas no ambiente laboral, mas também a necessidade urgente de identificar quando sentimentos comuns, como ansiedade e tristeza, cruzam a linha para se tornarem doenças incapacitantes. Casos como o de Amanda Abdias, de 28 anos, que se afastou após anos em tripla jornada, e Marcela Carolina, de 44 anos, que convive com depressão há duas décadas, mostram como esses transtornos afetam a vida real.

Ansiedade e depressão, embora naturais em certa medida, podem evoluir para quadros patológicos que paralisam o indivíduo. A ansiedade, por exemplo, é uma reação esperada diante de situações de urgência ou incerteza, mas se torna transtorno quando passa a dominar o cotidiano. Já a depressão vai além da tristeza passageira, marcando-se por uma perda persistente de prazer e energia. Esses problemas, que lideram as causas de afastamento, são agravados por fatores como pressões no trabalho, traumas e desigualdades sociais, com as mulheres sendo as mais afetadas, representando 64% dos casos.

Esse cenário alarmante não é novidade, mas ganhou proporções críticas em 2024. A combinação de cicatrizes da pandemia, instabilidade no mercado de trabalho e eventos traumáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, contribuiu para o aumento expressivo dos casos. Enquanto o governo busca medidas como a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) para fiscalizar a saúde mental nas empresas, a população precisa entender os sinais dessas doenças e os caminhos para enfrentá-las.

Ansiedade como doença: quando o alerta vira crise

A ansiedade é um mecanismo natural do corpo, ativado em momentos de perigo ou expectativa. No entanto, ela se transforma em transtorno quando deixa de ser uma resposta pontual e passa a interferir nas atividades diárias. Em 2024, o transtorno de ansiedade generalizada foi responsável por 141 mil afastamentos, destacando-se como a principal causa de licenças por saúde mental. Os quadros variam, indo desde preocupações excessivas até crises intensas de pânico, e afetam milhões de brasileiros de formas distintas.

Os sintomas de uma crise de ansiedade são marcantes. A liberação de adrenalina pelo cérebro, especialmente pela amígdala, desencadeia reações físicas como palpitações, suor excessivo, formigamento nas extremidades e até vômitos. Diferentemente de um estado normal, o corpo não consegue neutralizar esses efeitos, deixando a pessoa em um ciclo de alerta constante. Beatriz de Oliveira, que convive com ansiedade há mais de dez anos, relata como a pressão financeira a levou a um ponto em que não conseguia mais trabalhar, evidenciando o impacto incapacitante do transtorno.

Fatores como desequilíbrios químicos no cérebro, traumas e ambientes de alta pressão contribuem para o problema. Mulheres, que enfrentam sobrecarga de trabalho e violência, são maioria entre os afastados, com dados mostrando que ganham menos em 82% das áreas profissionais e sofreram um aumento de 10% nos casos de feminicídio nos últimos cinco anos. O tratamento varia de terapias focadas em qualidade de vida a medicações, sempre sob orientação profissional.

Depressão além da tristeza: o que a torna incapacitante

Diferentemente do que muitos imaginam, a depressão não se resume a choros ou melancolia. Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das doenças mais incapacitantes, ela se manifesta por uma queda persistente no humor e na energia, muitas vezes sem tristeza explícita. Em 2024, 113 mil afastamentos foram registrados por episódios depressivos, um salto significativo em relação aos 63 mil de 2014. A anedonia, ou seja, a perda de prazer em atividades antes agradáveis, é um dos sinais centrais, acompanhada por alterações no sono, apetite e concentração.

Casos reais ilustram a gravidade. Marcela Carolina, que vive com depressão há mais de 20 anos, descreve como o transtorno a impede de trabalhar em certos momentos, agravado por ser mulher negra, grupo que enfrenta 45% mais suicídios que a população branca. A doença é multifatorial, desencadeada por questões econômicas, luto, violência ou eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul, que deixaram 183 mortos e elevaram os índices de afastamentos no estado para 37 mil em 2024. A irritabilidade e o pessimismo também são sintomas frequentes, muitas vezes confundidos com mau humor.

O tratamento da depressão, embora não ofereça cura definitiva, é eficaz. A combinação de psicoterapia e medicamentos, ajustada por psiquiatras e psicólogos, ajuda a controlar os episódios, que podem durar semanas, meses ou até anos. A OMS alerta que, em episódios graves, a pessoa enfrenta dificuldades extremas em funções sociais e profissionais, o que explica sua liderança entre as causas de incapacidade no mundo.

Fatores sociais e o peso nas mulheres

A crise de saúde mental no Brasil não é apenas uma questão individual, mas também social. As mulheres, que representam 64% dos afastamentos por ansiedade e depressão, sofrem com uma prevalência dupla de depressão em comparação aos homens. Esse dado reflete desigualdades estruturais: elas lidam com menor remuneração, sobrecarga de cuidados familiares e maior exposição à violência. Em 2024, a média de idade das afastadas foi de 41 anos, com licenças durando até três meses.

Ambientes de trabalho tóxicos e instáveis amplificam o problema. A “pejotização” e a redução de equipes aumentam a pressão, enquanto eventos como a pandemia e desastres naturais, como as enchentes no Sul, deixam marcas duradouras. No Rio Grande do Sul, 18 mil afastamentos foram por ansiedade e depressão, quase metade do total de 37 mil licenças por saúde mental no estado. Especialistas apontam que a falta de suporte social e a precariedade econômica são gatilhos recorrentes.

A resposta do governo inclui a atualização da NR-1, que agora prevê fiscalização e multas às empresas que descuidam da saúde mental. Ainda assim, o número de casos segue em alta, com estados populosos como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro liderando em números absolutos, enquanto Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm as maiores taxas proporcionais.

Sinais de alerta: como identificar o problema

Reconhecer quando ansiedade e depressão deixam de ser emoções passageiras é essencial para buscar ajuda. Na ansiedade, sintomas como coração acelerado, mãos frias e medo constante sinalizam um transtorno, especialmente se afetam a rotina. Na depressão, a falta de motivação, cansaço excessivo e pensamentos de desesperança são indícios claros, mesmo sem tristeza evidente. Ambos os quadros podem coexistir, com a ansiedade sendo um fator de risco para a depressão e vice-versa.

Aqui estão os principais sinais a observar:

  • Ansiedade: palpitações, suor excessivo, preocupação incontrolável e crises de pânico.
  • Depressão: anedonia, alterações no sono ou apetite, baixa autoestima e pensamentos suicidas.
  • Sinais comuns: dificuldade de concentração, irritabilidade e impacto nas relações pessoais ou profissionais.

A diferenciação entre um estado normal e um transtorno exige avaliação profissional. Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, destaca que essas doenças roubam a qualidade de vida, tornando o diagnóstico precoce um passo crucial para evitar complicações.

Caminhos para o tratamento: o que funciona

O combate à ansiedade e à depressão exige abordagens personalizadas. Para a ansiedade, terapias focadas em reduzir a resposta ao estresse, aliadas a mudanças como sono regular e exercícios físicos, são eficazes em casos leves. Em situações graves, medicamentos ajudam a equilibrar a química cerebral. Na depressão, a combinação de psicoterapia e antidepressivos é o padrão, com acompanhamento contínuo para ajustar o tratamento aos episódios, que podem ser únicos ou recorrentes.

Em 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) ampliou o acesso a medicamentos como fluoxetina e amitriptilina, disponíveis gratuitamente em unidades básicas e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Casos extremos, como o do humorista Whindersson Nunes, que já falou abertamente sobre internação, mostram que o risco de suicídio pode exigir medidas drásticas. A chave é não culpar o paciente e buscar ajuda especializada ao primeiro sinal de piora.

Marcos da crise: uma linha do tempo

A escalada dos transtornos mentais no Brasil tem marcos claros, refletidos nos números de afastamentos:

  • 2014: 203 mil licenças por saúde mental, com 32 mil por ansiedade.
  • 2020: Pandemia intensifica casos, marcando o início de uma alta contínua.
  • 2023: 283 mil afastamentos, já indicando crescimento.
  • 2024: Recorde de 470 mil licenças, com 141 mil por ansiedade e 113 mil por depressão.

Essa cronologia mostra como fatores externos, como a crise sanitária e desastres naturais, somaram-se a problemas estruturais, como a precariedade no trabalho, para criar uma tempestade perfeita.

Impacto no trabalho: números que não mentem

A produtividade brasileira sente o peso da crise de saúde mental. Dos 3,5 milhões de pedidos de licença ao INSS em 2024, 470 mil foram por transtornos mentais, um aumento de 68% em um ano. A ansiedade lidera com 141 mil casos, seguida pela depressão com 113 mil, enquanto outros quadros, como transtorno bipolar (51 mil) e reações ao estresse (20 mil), também crescem. Em dez anos, os afastamentos por ansiedade subiram mais de 400%, de 32 mil em 2014 para o patamar atual.

Estados como Rio Grande do Sul, com 37 mil licenças, e Alagoas, com 2,7 mil, refletem a dimensão regional do problema. A média de duração das licenças, de até três meses, gera custos altos para empresas e o governo, enquanto o burnout, com 4 mil casos, ainda é subdiagnosticado. A atualização da NR-1 busca mudar esse cenário, mas a solução depende de prevenção e tratamento acessíveis.

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