Pai de Criança Baleada na Cabeça Era o Alvo de Ataque de Criminosos em Rio Branco
Por Eliton Muniz, 11 de março de 2025
A noite de sábado, 8 de março de 2025, foi marcada por mais um episódio de violência que chocou os moradores de Rio Branco, capital do Acre. Nos bairros Belo Jardim I e Santa Inês, ataques de criminosos resultaram em uma criança baleada na cabeça, agora lutando pela vida na UTI do Hospital da Criança. A Polícia Civil, que investiga o caso, revelou uma informação alarmante: o verdadeiro alvo dos disparos seria o pai da menina, o que transforma o incidente em mais um capítulo da guerra silenciosa que assola comunidades vulneráveis no Brasil.
O crime ocorreu por volta das 21h, quando a tranquilidade dos bairros residenciais foi interrompida por uma sequência de tiros. Segundo testemunhas, dois homens armados passaram em um veículo e abriram fogo, atingindo a criança que brincava próxima à residência da família. A menina, cuja identidade não foi revelada por motivos de segurança, foi socorrida em estado grave e encaminhada imediatamente ao Hospital da Criança, onde permanece internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Seu quadro é considerado crítico, mas estável, conforme atualização médica divulgada na manhã desta terça-feira, 11 de março.
A investigação da Polícia Civil aponta que o ataque não foi um ato aleatório. De acordo com o delegado responsável pelo caso, o pai da vítima seria o alvo principal dos criminosos. “Estamos apurando a motivação, mas os primeiros relatos indicam que o pai da criança era o objetivo dos disparos. A menina acabou sendo atingida por estar no local errado, na hora errada”, afirmou a autoridade em entrevista coletiva. A polícia já identificou e apreendeu o veículo utilizado pelos suspeitos, além de prender um deles, que está sob custódia e presta depoimento para esclarecer a dinâmica do crime.
O caso expõe, mais uma vez, a realidade de violência que permeia as periferias de Rio Branco. Os bairros Belo Jardim I e Santa Inês, embora habitados majoritariamente por famílias trabalhadoras, têm sido palco de disputas entre facções criminosas que lutam pelo controle do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas. Relatos de moradores sugerem que o pai da criança baleada pode ter alguma ligação com esses grupos, seja como integrante ou como alguém que se tornou inimigo deles. A polícia, no entanto, ainda não confirmou essa hipótese, mantendo a investigação em sigilo para evitar especulações.
A violência contra crianças em contextos de confrontos armados não é novidade no Brasil. Dados do Instituto Fogo Cruzado, que monitora tiroteios em áreas urbanas, mostram que, apenas em 2024, dezenas de crianças foram baleadas em circunstâncias semelhantes no país, muitas delas vítimas de balas perdidas ou alvos indiretos de ataques planejados. Em Rio Branco, a situação não é diferente: a capital acreana tem registrado um aumento nos índices de homicídios e tentativas de assassinato, reflexo da expansão do crime organizado na região Norte.
A família da menina baleada vive um momento de angústia e incerteza. Vizinhos relatam que os pais estão devastados, acompanhando a filha no hospital enquanto tentam entender o que levou ao ataque. “Era uma criança alegre, sempre brincando na rua. Ninguém imagina que algo assim vai acontecer com uma inocente”, disse uma moradora do bairro Santa Inês, que preferiu não se identificar. O pai, segundo fontes próximas, não se pronunciou publicamente, mas teria informado à polícia que desconhece o motivo exato do ataque, embora reconheça que pode ter sido o alvo.
No Hospital da Criança, a equipe médica trabalha incansavelmente para salvar a vida da pequena vítima. “Ela chegou com um ferimento grave na cabeça, o que exigiu intervenção imediata. Estamos monitorando hora a hora, mas o prognóstico ainda é reservado”, informou um dos médicos responsáveis, sob anonimato. A menina passou por cirurgia para conter a hemorragia e reduzir a pressão intracraniana, mas os próximos dias serão decisivos para determinar sua recuperação.
A Polícia Civil intensificou as diligências para identificar o segundo suspeito, que segue foragido. Imagens de câmeras de segurança da região estão sendo analisadas, e testemunhas estão sendo ouvidas para reconstruir o trajeto dos criminosos antes e depois do ataque. O veículo apreendido, um carro sedan de cor escura, foi encontrado abandonado a poucos quilômetros do local do crime, com marcas de tiros e vestígios que podem levar à identificação dos responsáveis.
A prisão de um dos suspeitos trouxe um fio de esperança às autoridades. O homem, cuja identidade não foi revelada, tem antecedentes criminais por tráfico de drogas e porte ilegal de arma. Em seu depoimento inicial, ele negou participação direta no ataque, mas admitiu conhecer o pai da vítima, o que reforça a tese de que o crime teve motivação pessoal ou ligada a disputas locais. “Estamos cruzando informações para entender se isso foi um acerto de contas ou parte de algo maior”, disse o delegado.
A notícia do ataque gerou comoção e indignação entre os moradores de Rio Branco. Nas redes sociais, mensagens de solidariedade à família se misturam com críticas à falta de segurança nos bairros periféricos. “Até quando nossas crianças vão pagar o preço dessa violência sem fim?”, questionou um internauta no X. Outro escreveu: “O governo precisa agir, isso não pode virar rotina.” A prefeitura de Rio Branco ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso, mas fontes indicam que medidas de reforço policial estão sendo discutidas com o governo estadual.
O caso de Rio Branco ecoa tragédias semelhantes em outras cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro, onde crianças baleadas em tiroteios são uma triste constante. Em 2019, a morte de Ágatha Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, mobilizou debates nacionais sobre a violência policial e a exposição de civis em áreas de conflito. Embora o incidente em Rio Branco envolva criminosos e não agentes do Estado, a essência do problema é a mesma: a vulnerabilidade de crianças em meio à escalada da violência urbana.
Especialistas apontam que a combinação de pobreza, falta de políticas públicas efetivas e o fortalecimento do crime organizado cria um cenário propício para esse tipo de tragédia. “As crianças são as vítimas invisíveis desses conflitos. Elas não escolhem onde nascem ou vivem, mas acabam pagando o preço mais alto”, analisa Maria Silva, socióloga especializada em segurança pública. Para ela, a solução passa por investimentos em educação, geração de empregos e, sobretudo, desarmamento das ruas.
Enquanto a investigação avança, a população de Rio Branco aguarda respostas. A identificação e prisão dos responsáveis pelo ataque são apenas o primeiro passo para que a família da criança baleada encontre algum alívio em meio à dor. No entanto, o caso levanta questões mais profundas sobre o combate à violência no Brasil. Como proteger as próximas gerações de um ciclo que parece interminável? Como garantir que brincar na rua, um direito básico da infância, não se torne uma sentença de morte?
Por ora, os olhos estão voltados para o Hospital da Criança, onde a menina luta pela vida, e para as ruas de Belo Jardim I e Santa Inês, onde a comunidade tenta retomar a normalidade após mais um trauma. A Polícia Civil promete divulgar atualizações em breve, mas, para muitos, a sensação é de que a justiça, quando chega, raramente repara o irreparável. Em um país onde a violência ceifa vidas inocentes com frequência alarmante, a história dessa criança baleada em Rio Branco é mais um grito por mudanças que não podem esperar.