quarta-feira, 12 março, 2025
24.3 C
Rio Branco

Aumento de 68% revela crise: Brasil registra 472 mil afastamentos por ansiedade e depressão

Depressão, crise de ansiedade

O Brasil enfrenta um cenário alarmante de saúde mental, com reflexos diretos no mercado de trabalho. Em 2024, o país atingiu a marca de 472.328 afastamentos por transtornos mentais, como ansiedade e depressão, o maior número registrado nos últimos dez anos. Esse volume, que representa um crescimento de 68% em relação ao ano anterior, expõe uma crise que afeta trabalhadores, empresas e a economia nacional. Dados do Ministério da Previdência Social apontam que os benefícios por incapacidade temporária, concedidos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), nunca estiveram tão altos desde 2014, quando a série histórica começou a ser acompanhada com mais detalhe. A situação evidencia um problema crescente, impulsionado por fatores como as sequelas da pandemia, a pressão no ambiente laboral e as dificuldades socioeconômicas enfrentadas pela população.

Ansiedade e depressão lideram as causas desses afastamentos, com números que impressionam. Dos quase meio milhão de casos, os transtornos ansiosos responderam por 141.414 licenças, enquanto os episódios depressivos somaram 113.628. Esse aumento reflete não apenas a deterioração da saúde mental dos brasileiros, mas também uma maior percepção e diagnóstico dessas condições por profissionais de saúde. Diante desse quadro, o governo federal tomou medidas para tentar conter o impacto, como a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), que agora exige das empresas maior atenção aos riscos psicossociais no trabalho.

A gravidade da situação também se traduz em custos financeiros significativos. Estima-se que o impacto econômico dos afastamentos por transtornos mentais em 2024 tenha chegado a quase R$ 3 bilhões, considerando o pagamento médio de R$ 1,9 mil por mês a cada trabalhador afastado, que permanece fora do mercado por cerca de três meses. Esse cenário coloca em xeque a capacidade das empresas de lidar com a saúde mental de seus colaboradores e reforça a necessidade de ações preventivas mais eficazes.

Perfil dos afetados ganha destaque

Mulheres representam a maioria dos trabalhadores afastados por questões de saúde mental, totalizando 64% dos casos em 2024. A idade média dessas pessoas é de 41 anos, e os quadros de ansiedade e depressão predominam entre os diagnósticos. Fatores como a sobrecarga de trabalho, a dupla jornada e a desigualdade salarial, que ainda persiste em 82% das profissões segundo dados do IBGE, ajudam a explicar essa prevalência.

Já entre os estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro lideram em números absolutos de afastamentos, refletindo sua alta densidade populacional. Proporcionalmente, porém, Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentam os maiores índices em relação ao tamanho de suas populações, com destaque para o impacto das enchentes no Sul, que agravaram a situação local.

Fatores por trás do recorde

Diversos elementos contribuem para o aumento expressivo dos afastamentos por transtornos mentais. Psiquiatras e psicólogos apontam que a pandemia de Covid-19, responsável por mais de 700 mil mortes no Brasil, deixou cicatrizes emocionais profundas, como o luto e o isolamento social. Além disso, a alta de 55% no preço dos alimentos entre 2020 e 2024 intensificou a insegurança financeira, enquanto a informalidade no mercado de trabalho e o estresse por metas excessivas se tornaram gatilhos comuns para ansiedade e depressão.

Pressão no trabalho e sequelas da pandemia

A rotina exaustiva de muitos brasileiros tem sido um dos principais catalisadores dessa crise. Amanda Abdias, de 28 anos, é um exemplo claro desse impacto. Após anos conciliando três empregos para sustentar a família em meio às dificuldades pós-pandemia, ela chegou ao limite em 2024, enfrentando crises de ansiedade que a obrigaram a se afastar do trabalho. Casos como o dela ilustram como a combinação de pressão financeira e falta de suporte no ambiente laboral pode levar ao colapso emocional. Outro relato é o de Marcela Carolina, 44 anos, que convive com depressão há mais de duas décadas. Para ela, o racismo enfrentado como mulher negra agrava ainda mais seu quadro, tornando o trabalho, em muitos momentos, uma fonte de sofrimento incapacitante.

O mercado de trabalho atual também reflete um cenário de mudanças abruptas. Após a pandemia, a volta à normalidade trouxe um ritmo acelerado e expectativas elevadas, muitas vezes sem o suporte necessário para os trabalhadores. A informalidade crescente, aliada à ausência de políticas robustas de bem-estar nas empresas, intensifica o problema. Dados mostram que, em 2023, foram concedidos 283 mil benefícios por transtornos mentais, número que saltou para os 472 mil de 2024, evidenciando uma escalada preocupante.

Empresas começam a sentir o peso dessa realidade. Setores como teleatendimento, bancos e saúde, conhecidos por altas demandas e jornadas longas, estão entre os mais afetados. A falta de autonomia, o assédio moral e a carga mental excessiva são apontados como riscos psicossociais que precisam ser gerenciados para reverter esse quadro.

Medidas do governo entram em ação

Diante do recorde de afastamentos, o governo federal reagiu com a atualização da NR-1, norma que regula a segurança e saúde no trabalho. A partir de maio de 2025, as empresas serão obrigadas a identificar e controlar riscos psicossociais, como estresse e assédio, sob pena de multas que variam de R$ 500 a R$ 6 mil por infração. A fiscalização, conduzida por auditores do Ministério do Trabalho, priorizará setores com maior incidência de adoecimento mental, analisando condições de trabalho e dados de afastamentos.

  • Principais mudanças previstas na NR-1:
    • Avaliação obrigatória de riscos psicossociais no ambiente laboral.
    • Fiscalização planejada com foco em denúncias e setores críticos.
    • Exigência de planos de ação para melhorar a saúde mental dos trabalhadores.

Essa medida visa trazer a saúde mental para o centro das políticas corporativas, mas sua efetividade dependerá da implementação prática pelas empresas. Enquanto isso, o custo humano e econômico da crise continua a crescer, exigindo respostas urgentes.

Números que contam a história

Os dados de 2024 revelam a dimensão do problema em diferentes regiões. São Paulo registrou o maior número absoluto de afastamentos, com mais de 100 mil casos, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Já o Distrito Federal lidera em proporção, com uma taxa elevada em relação à sua população. No Rio Grande do Sul, as enchentes de 2024, que deixaram centenas de mortos e milhares desalojados, são consideradas um fator adicional para o aumento das licenças por transtornos mentais.

Em termos nacionais, os 472 mil afastamentos representam apenas uma fração dos 3,5 milhões de pedidos de licença recebidos pelo INSS em 2024, mas o salto de 68% em relação a 2023 destaca a gravidade específica da saúde mental. Comparado a 2014, quando o número era significativamente menor, o crescimento reflete tanto o agravamento das condições quanto uma maior busca por ajuda.

Cronograma da crise e ações futuras

O avanço dos transtornos mentais no Brasil segue uma trajetória preocupante. Veja os marcos recentes:

  • 2020: Pandemia intensifica casos de ansiedade e depressão com isolamento e luto.
  • 2023: 283 mil afastamentos por saúde mental, já um número elevado.
  • 2024: Recorde de 472 mil licenças, com aumento de 68%.
  • Maio de 2025: Entrada em vigor da nova NR-1, com foco em fiscalização.

Esse calendário mostra como o problema se agravou nos últimos anos, culminando na situação atual. A expectativa é que as novas regras tragam mudanças, mas os próximos meses serão cruciais para avaliar seu impacto real.

Impacto nas empresas e na sociedade

Setores como saúde e telemarketing enfrentam desafios particulares. Em hospitais, por exemplo, a alta demanda por profissionais durante e após a pandemia resultou em exaustão generalizada. Já em call centers, as metas agressivas e a falta de pausas adequadas têm sido associadas a picos de ansiedade. Beatriz de Oliveira, 31 anos, que trocou a Bahia por São Paulo em busca de melhores oportunidades, viu sua saúde mental deteriorar com a pressão financeira e o ritmo intenso da metrópole, levando-a a um afastamento por ansiedade incapacitante.

Algumas empresas já buscam soluções. A Coris Seguro Viagem, por exemplo, implementou apoio psicológico, benefícios como academias e orientação financeira para seus funcionários desde 2022, observando uma redução nos atestados médicos. Essas iniciativas, porém, ainda são exceção em um mercado onde a saúde mental muitas vezes é negligenciada.

Desafios regionais amplificam o problema

No Rio Grande do Sul, as enchentes de 2024 deixaram marcas profundas. Além das perdas materiais, o trauma psicológico elevou os casos de depressão e ansiedade, com o estado registrando um dos maiores índices proporcionais de afastamentos. Em Santa Catarina e no Distrito Federal, fatores como o custo de vida elevado e a pressão por produtividade também contribuem para o cenário.

Nas regiões mais populosas, como o Sudeste, a concentração de trabalhadores informais e a falta de acesso a serviços de saúde mental agravam a crise. Em São Paulo, o número de afastamentos reflete tanto a densidade populacional quanto as condições adversas do mercado de trabalho, com jornadas extensas e baixa remuneração em muitos setores.

Mais Lidas

Astro sul-coreano Kim Soo-hyun é acusado de envolvimento na morte de uma atriz

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Quase um mês...

Neymar Pai anuncia reforma no CT do Santos

SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Neymar Pai anunciou os próximos...

Tânia Alves vive romance com músico 49 anos mais jovem e encanta fãs aos 75 anos

A atriz e cantora Tânia Alves, aos 75 anos,...

Joelma celebra chá revelação e anuncia chegada de Zahara, sua primeira neta

Joelma, uma das maiores estrelas da música brasileira, está...

Frente fria muda o tempo em São Paulo: previsão aponta chuvas e máximas de 30°C nesta semana

São Paulo está prestes a vivenciar uma mudança significativa...

Últimas Notícias

Categorias populares

  • https://wms5.webradios.com.br:18904/8904
  • - ao vivo