A partir da segunda quinzena de março, o Sistema Único de Saúde (SUS) passa a oferecer a vacina contra a influenza de forma permanente para crianças de 6 meses a menores de 6 anos, além de gestantes e idosos acima de 60 anos. A medida, anunciada nesta sexta-feira, 28 de fevereiro, marca a inclusão definitiva da proteção contra a gripe no Calendário Nacional de Vacinação, encerrando o modelo de campanhas sazonais para esses grupos. A mudança é acompanhada por atualizações significativas em outras imunizações, como as vacinas contra poliomielite, rotavírus e covid-19, ampliando o alcance e a eficácia da estratégia de saúde pública no Brasil. O objetivo é reduzir complicações, internações e óbitos causados por doenças preveníveis, reforçando o papel do SUS como referência em imunização gratuita.
Para as crianças, a inclusão da vacina da gripe no calendário regular representa um avanço na proteção contra o vírus influenza, responsável por infecções respiratórias que podem evoluir para quadros graves, como pneumonia. Antes restrita a campanhas anuais, a imunização agora estará disponível o ano todo nas mais de 38 mil salas de vacinação espalhadas pelo país. Gestantes e idosos, já contemplados em estratégias anteriores, também se beneficiam da continuidade do acesso, enquanto outros grupos prioritários, como profissionais da saúde e pessoas com comorbidades, seguirão atendidos em ações específicas. A decisão foi baseada em estudos científicos que apontam a necessidade de proteção contínua contra cepas sazonais do vírus.
Além da gripe, as mudanças no calendário incluem ajustes importantes. A vacina oral contra poliomielite (VOP) será substituída exclusivamente pela versão inativada (VIP), aplicada por injeção, para reforços e esquema básico. Já a vacina contra rotavírus terá seu período de aplicação ampliado, permitindo maior flexibilidade para pais e responsáveis. A imunização contra a covid-19 também ganha destaque, com recomendações específicas para faixas etárias e grupos de risco, consolidando a resposta do Brasil a doenças que impactam a saúde pública.
Nova proteção contra a influenza
Crianças entre 6 meses e 5 anos, 11 meses e 29 dias passam a contar com a vacina contra a gripe como parte integrante de sua rotina de imunização. A ampliação elimina a dependência de campanhas sazonais, que tradicionalmente ocorriam entre abril e maio, e assegura que o imunizante esteja disponível a partir da segunda quinzena de março em todas as unidades de saúde. A iniciativa visa proteger um grupo especialmente vulnerável a complicações respiratórias, que representam uma das principais causas de internação infantil no Brasil.
Gestantes, independentemente do estágio da gravidez, e idosos a partir de 60 anos também terão acesso contínuo à vacina. A influenza pode ser particularmente perigosa para esses públicos, aumentando o risco de parto prematuro em grávidas e de agravamento de condições crônicas em idosos. Para outros grupos, como professores, forças de segurança e pessoas com doenças crônicas, a vacinação seguirá em estratégias especiais definidas pelo Ministério da Saúde.
A vacina utilizada é trivalente, protegendo contra os três subtipos do vírus influenza mais comuns no país: H1N1, H3N2 e uma linhagem do tipo B. Crianças que nunca receberam o imunizante precisarão de duas doses na primeira vez, com intervalo de 30 dias, enquanto as já vacinadas anteriormente tomarão uma dose anual. A aplicação pode ser feita simultaneamente com outras vacinas do calendário, sem riscos à saúde.
Mudanças na poliomielite e rotavírus
O combate à poliomielite ganha um reforço com a substituição total da vacina oral (VOP) pela vacina inativada (VIP) em todas as doses de reforço e no esquema básico, que ocorre aos 2, 4 e 6 meses de vida, com reforços aos 15 meses e 4 anos. A VIP, administrada por injeção, é considerada mais segura e eficaz, eliminando o raro risco de paralisia associada à versão oral. A mudança alinha o Brasil a padrões internacionais e responde ao alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a baixa cobertura vacinal, que eleva o risco de reintrodução do poliovírus no país, erradicado desde 1989.
Já a vacina contra o rotavírus, que protege contra diarreias graves em bebês, teve seu cronograma ajustado para facilitar a adesão. A primeira dose, recomendada aos 2 meses, agora pode ser aplicada até os 11 meses e 29 dias, enquanto a segunda, indicada aos 4 meses, foi esticada até os 23 meses e 29 dias. Antes, os limites eram mais rígidos — 3 meses e 7 dias para a primeira e 5 meses e 15 dias para a segunda —, o que dificultava a imunização de crianças que perdiam o prazo por questões logísticas ou de saúde.
Esses ajustes refletem uma estratégia mais flexível e inclusiva. A poliomielite e o rotavírus, embora controlados no Brasil, seguem sendo ameaças globais, e a ampliação do acesso às vacinas visa manter essas doenças longe da população infantil, que é a mais afetada por suas complicações.
Atualização na vacinação contra covid-19
A imunização contra a covid-19 agora é parte permanente do Calendário Nacional de Vacinação para crianças de 6 meses a menores de 5 anos, idosos acima de 60 anos e gestantes. Para esses grupos, a proteção será anual, com doses disponíveis nas unidades de saúde ao longo do ano. Crianças nessa faixa etária que ainda não foram vacinadas seguirão um esquema de três doses iniciais, com intervalos de 4 e 8 semanas, enquanto as já imunizadas receberão uma dose de reforço.
Grupos especiais a partir de 5 anos, como imunocomprometidos, indígenas, quilombolas, trabalhadores da saúde e pessoas com comorbidades, terão acesso periódico: a cada seis meses para os mais vulneráveis e anualmente para os demais. A população geral entre 5 e 59 anos, que nunca tomou nenhuma dose, é recomendada a receber uma única aplicação, enquanto os já vacinados devem seguir as orientações de reforço conforme a faixa etária e condição de saúde.
Desde o início da pandemia, o Brasil aplicou mais de 500 milhões de doses contra a covid-19, reduzindo significativamente mortes e internações. A incorporação ao calendário reforça a luta contra variantes do vírus e mantém a proteção coletiva, especialmente para os mais expostos a formas graves da doença.
Benefícios para a saúde pública
A inclusão da vacina contra a gripe no calendário regular beneficia diretamente cerca de 20 milhões de crianças de 6 meses a menores de 6 anos, além de milhões de gestantes e idosos. Dados mostram que a influenza causa até 650 mil mortes por ano no mundo, e no Brasil, as complicações respiratórias estão entre as principais causas de internação em períodos sazonais. Com a vacinação permanente, o SUS espera reduzir esse impacto, desafogando hospitais e protegendo os grupos mais frágeis.
As mudanças na poliomielite e no rotavírus também têm alcance expressivo. Em 2023, a cobertura vacinal contra pólio caiu para 77%, bem abaixo da meta de 95% da OMS, aumentando o risco de surtos. A adoção exclusiva da VIP e a flexibilidade no rotavírus buscam reverter esse quadro, facilitando o acesso e incentivando a adesão. Já a covid-19, com mais de 700 mil óbitos registrados no país desde 2020, segue como prioridade, e a imunização contínua visa evitar novos picos de casos graves.
Pais e responsáveis terão papel crucial na atualização das cadernetas de vacinação. As unidades de saúde estarão preparadas para orientar sobre os novos prazos e esquemas, garantindo que nenhuma criança fique desprotegida contra essas doenças preveníveis.
Calendário detalhado das mudanças
As atualizações no Calendário Nacional de Vacinação entram em vigor em março e seguem um cronograma claro:
- Vacina contra influenza: Disponível a partir da segunda quinzena de março para crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos, o ano todo.
- Vacina contra poliomielite (VIP): Esquema básico aos 2, 4 e 6 meses; reforços aos 15 meses e 4 anos, exclusivamente com a versão inativada.
- Vacina contra rotavírus: Primeira dose até 11 meses e 29 dias; segunda até 23 meses e 29 dias.
- Vacina contra covid-19: Três doses iniciais para crianças de 6 meses a menores de 5 anos; anual para idosos e gestantes; periódica para grupos especiais.
Os prazos ampliados para o rotavírus e a substituição da pólio oral já começam a valer neste ano, enquanto a influenza passa a ser rotina nas salas de vacinação.
Grupos prioritários e acesso facilitado
Além das crianças, gestantes e idosos, outros públicos seguem protegidos contra a gripe em ações específicas. Profissionais da saúde, professores, forças de segurança, pessoas privadas de liberdade e indivíduos com doenças crônicas ou deficiências terão acesso em campanhas direcionadas. A vacina trivalente, produzida pelo Instituto Butantan, é segura e pode ser combinada com outros imunizantes, como os contra covid-19 e poliomielite, sem comprometer a eficácia.
A ampliação do período de aplicação do rotavírus beneficia famílias que enfrentam barreiras logísticas, como falta de transporte ou horários incompatíveis com as unidades de saúde. Antes, cerca de 10% das crianças perdiam a janela de vacinação por ultrapassar os limites rígidos, ficando vulneráveis a diarreias graves que podem levar à desidratação e internação.
Para a covid-19, a periodicidade ajustada — semestral para imunocomprometidos e anual para outros grupos — reflete a evolução da pandemia e a necessidade de proteção contínua contra variantes. As vacinas estarão disponíveis gratuitamente, e o SUS reforça a importância de manter os dados atualizados no aplicativo Conecte SUS para facilitar o acompanhamento.
Impacto esperado na infância
Proteger crianças contra a gripe, poliomielite, rotavírus e covid-19 reduz não só o risco individual, mas também a circulação desses vírus na comunidade. A influenza, por exemplo, é responsável por milhares de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em menores de 6 anos anualmente, e a vacinação regular pode cortar esses números pela metade, conforme estimativas baseadas em campanhas anteriores.
A poliomielite, embora erradicada no Brasil, exige vigilância constante. A queda na cobertura vacinal nos últimos anos — de 96% em 2015 para 77% em 2023 — acendeu o alerta para a possibilidade de reintrodução do vírus, que causa paralisia infantil em 1 a cada 200 infectados. A VIP, mais segura, é um passo para recuperar a imunidade coletiva. Já o rotavírus, que antes da vacina matava centenas de crianças por ano no país, segue controlado, mas exige altas taxas de vacinação para evitar retrocessos.
Com essas mudanças, o Brasil reafirma seu compromisso com a saúde infantil, oferecendo um calendário mais robusto e acessível. As unidades de saúde já se preparam para orientar a população e garantir que as doses cheguem a todos os elegíveis.