Último dia do Festival Transamazônico reafirma poder da arte e da memória LGBTQIAPN+

No último dia da etapa Rio Branco do Festival Transamazônico de Cinema LGBTQIAPN+, nesta quinta-feira, 27, foram realizadas mais exibições de curtas e longas-metragens que dialogam sobre temáticas relevantes para a comunidade, no Cine Teatro Recreio.

Durante realização do festival, centenas de acreanos prestigiaram filmes e curtas LGBTQIAPN+. Foto: Ingrid Kelly/Secom

O Festival Transamazônico é um projeto aprovado pela Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195/2022), que representa o maior investimento direto já realizado no setor cultural do Brasil, destinando R$ 3,8 bilhões para a execução de ações e projetos culturais em todo o território nacional.

O governo do Acre prestou apoio ao evento por meio da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), da Secretaria de Comunicação (Secom) e da Fundação Elias Mansour (FEM), contribuindo com a divulgação, mobilização do público atendido e cessão do espaço.

Durante 3 dias, Festival Transamazônico foi realizado no Cine Teatro Recreio. Foto: Ingrid Kelly/Secom

Protagonismo e diversidade nos bastidores

Uma das preocupações do idealizador do festival, Moisés Alencastro, foi a de montar uma equipe predominantemente LGBTQIAPN+, promovendo a representatividade também por trás das câmeras. Para Luck Aragão, que trabalha com cultura desde 2014 e durante o evento desenvolveu o papel de produtor, gerenciando a estrutura de som, iluminação, hospedagem, alimentação e organização de assistentes e monitores, a escolha foi fundamental.

“O conceito principal do festival é a comunidade protagonizar suas próprias narrativas e isso se reflete no pessoal, além de fomentar e mobilizar toda a cadeia produtiva de cultura local. Para mim é incrível poder trabalhar com uma equipe mais diversa e acolhedora”, disse. 

Além do trabalho em eventos culturais, Luck Aragão também já trabalhou em curtas, longas-metragens e séries. Foto: Carlos Alexandre/Secom

Com formação em teatro e o exemplo de familiares atuando em produção artística, Luck diz ter se encontrado profissionalmente nos bastidores de eventos culturais. Com a bagagem de produção em festivais de música, teatro e cinema, o profissional já totaliza mais de 11 anos de experiência. 

Tudo pela arte

Um grande destaque do último dia do festival foi a exibição do curta-metragem acreano Maués: a Garça, de Isabelle Amsterdam, que retrata a história profissional e pessoal de Maués Melo, um multiartista e emblemática figura do movimento LGBTQIAPN+ do Acre. Com apoio de acervo familiar e arquivo da Federação de Teatro do Acre (Fetac), em 27 minutos é registrada a vida do visionário artista que vivia sob o lema: “Tudo pela arte”.

Filme surpreende pela rica reunião de fotos e vídeos do multiartista. Foto: Carlos Alexandre/Secom

O filme foi lançado em 2021, fruto do apoio da Lei Aldir Blanc e foi realizado de maneira completamente remota, durante o período de isolamento social da pandemia. 

Uma grande sustentação do filme são os fortes depoimentos de amigos e familiares que conviveram com Maués e lamentam o seu falecimento precoce, por conta do HIV. A amiga Fátima Silva prestigiou a sessão e compartilhou impressões: “Ele era um acontecimento, sempre estive honrada em estar na presença dele. Ele teve o papel de ajudar a construir uma geração que não desenvolveu preconceitos e cultivou o amor”.

Filme evidencia importância da preservação de acervos, eternizando feitos de figuras emblemáticas como Maués. Foto: Carlos Alexandre/Secom

Com formação em Cinema e Audiovisual na Usina de Arte João Donato, a diretora Isabelle Amsterdam rememora quando conheceu Maués: “Eu tinha 7 anos de idade, ele era amigo da minha tia e sempre foi uma figura que chamava a atenção. Naquele primeiro momento, eu não tinha dimensão de sua grandeza, mas desde então me impactou. Era alto, muito branco, loiro e de olhos claros; ele cativou o meu olhar de criança”.

“Tiro grande satisfação em ver refletido no outro a importância de contar uma história como a de Maués”, reflete Isabelle Amsterdam. Foto: Ingrid Kelly/Secom

A escolha de contar a história de Maués vem da proeminência do artista no meio cultural: “Foi uma figura icônica para o teatro e sempre tive ele presente no fundo da minha memória. Por isso quis prestar essa homenagem, documentando de maneira honesta a sua vida, registrando-a para sempre, para a sociedade acreana”.

Narrativas plurais

A programação de encerramento também incluiu as exibições dos longas Tudo o que Você Podia Ser e Salomé, além dos curtas Pirenopolynda, Casa de Bonecas e Se Trans For Mar. O último, dirigido por Cibele Appes, revelou-se uma grata surpresa, revelando um olhar mais tenro e de positividade para o futuro de pessoas transsexuais, trazendo novas abordagens sobre corpos invisibilizados na sociedade.

O Festival Transamazônico de Cinema LGBTQIAPN+ encerrou mais uma etapa, reafirmando a importância de criar espaços de representatividade, celebração e fortalecimento das vozes da comunidade. Um evento que vai muito além das telas, impulsionando a cultura local e inspirando transformações sociais por intermédio da arte.

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