BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Fruto de promessa de campanha, o governo de Javier Milei anunciou nesta sexta-feira (14) o início do processo de privatização da Corredores Viales S.A., a empresa pública responsável por cerca de 6.000 quilômetros de rodovias e estradas por toda a Argentina.
A atual gestão da Casa Rosada afirma que a companhia é deficitária e que cerca de 45% de toda a rede de estradas argentinas, sob gestão da Corredores, não se encontra em boas condições de manutenção. “Não é papel do Estado a gestão das rodovias”, diz um comunicado oficial.
O modelo adotado será o de concessão de obra pública com cobrança de pedágio. “A partir de agora, será o concessionário que terá de realizar as obras necessárias para assim conseguir o direito de cobrar pedágio nessas estradas”, segue o governo do ultraliberal.
O processo de privatização da Corredores Viales foi validado em meados do ano passado, quando o Congresso argentino aprovou a chamada Lei de Bases de Milei, em uma versão bem reduzida em relação à original, mas ainda assim extensa.
Além da empresa responsável pelas vias públicas, foram autorizadas também as privatizações: da estatal de água e saneamento; de uma empresa responsável por transporte de cargas em algumas províncias; da estatal ferroviária; da estatal responsável pela gestão das pistas nos aeroportos e da estatal de produção e transporte de gás natural.
“Toda a administração pública nacional tem se concentrado em impulsionar um Estado menor cujo único papel seja o de facilitar ao setor privado a gestão da infraestrutura e da atividade econômica nacional”, diz o comunicado de Milei.
Ainda nesta sexta-feira, o porta-voz do presidente, Manuel Adorni, anunciou uma nova ação que batiza de “burocracia zero”.
Por meio de seu Ministério da Desregulação e Transformação do Estado, invenção que Milei diz que agora foi replicada EUA por seus ídolos Donald Trump e Elon Musk, o governo orientou todo o setor público a levantar listar, em 30 dias, medidas que podem ser derrubadas.
“São aquelas regras que criem obstáculos à atividade econômica e ao livre mercado ou que impeçam o crescimento do setor produtivo”, disse ele. “É retirar o peso morto do Estado sobre a economia.”
Há poucos dias foi concretizada a primeira privatização da era Milei, ainda que algumas outras também já estejam na esteira. A metalúrgica Impsa, que fabrica turbinas hidroelétricas e moinhos de vento, teve 85% de suas ações vendidas à americana Arc Energy por US$ 27 milhões.
A agenda econômica de Milei avança de forma acelerada em ano de eleições legislativas que renovarão parte do Congresso argentino, em outubro. Candidatos ligados a Milei e ao seu partido, Liberdade Avança, mostram força nas pesquisas de intenção de voto.
A inflação mensal ficou em 2,2% em janeiro, segundo os dados oficiais mais recentes que foram informados nesta quinta (13). Quando Milei assumiu o cargo, em dezembro de 2023, o país tinha uma inflação de 25,5%.
A alta no custo de vida começou recentemente a ser amortizada pela recomposição dos salários. Os salários do setor formal na Argentina (público e privado) acumularam 137,7% de crescimento no ano passado, acima do aumento dos preços (117,8%). É importante notar, porém, que o país é amplamente informal -calcula-se que, no setor urbano, mais de 50% dos trabalhadores estejam na informalidade.