Ecosociobiotecnomia: a nova fronteira para um desenvolvimento sustentável e inclusivo

Por José Luiz Gondim dos Santos*

Os componentes conceituais e os passos metodológicos da ecosociobiotecnomia são propostos como uma evolução necessária e promissora no campo do desenvolvimento sustentável, integrando ecossistemas, sociedade, biotecnologia e economia, em uma abordagem prática e regenerativa.  Inspirada por marcos como o relatório “Os Limites do Crescimento”, do Clube de Roma (Meadows et al., 1972), e “Nosso Futuro Comum”, de Brundtland (1987), essa abordagem avança a partir das dimensões propostas por Ignacy Sachs na década de 1970, indo além da preservação ambiental para propor transformações profundas no progresso tecnológico e nos padrões de consumo.

O conceito de ecosociobiotecnomia responde diretamente à necessidade de reduzir a pegada ecológica global, promovendo uma economia circular, de baixo carbono e socialmente inclusiva.  A ciência e a biotecnologia, neste contexto, desempenham papel crucial, permitindo a criação de soluções inovadoras que poupam recursos naturais, regeneram ecossistemas e geram impactos sociais positivos.  Um exemplo de destaque é a produção de biofertilizantes e biopesticidas em biofábricas no Brasil, amplamente utilizadas em sistemas agroflorestais na Amazônia (Embrapa, 2023).  Essas tecnologias promovem a regeneração de áreas degradadas e eliminam a dependência de insumos químicos, protegendo tanto a biodiversidade quanto a saúde do solo.

Outro exemplo emblemático é o etanol de segunda geração, obtido a partir de resíduos da cana-de-açúcar.  Essa tecnologia não só potencializa a produção de bioenergia, mas também reduz a emissão de gases de efeito estufa, consolidando o Brasil como referência mundial em energias renováveis (UNICA, 2022).  Ainda no campo da bioenergia, projetos de biogás, como os desenvolvidos por cooperativas no Paraná, convertem resíduos orgânicos em energia, proporcionando soluções econômicas para comunidades rurais e contribuindo para a transição energética (ABiogás, 2021).

A ecosociobiotecnomia também propõe mudanças nos padrões de consumo, destacando o papel central dos indivíduos e das comunidades na sustentabilidade planetária.  A substituição de dietas ricas em carne por proteínas vegetais, por exemplo, é um avanço factível e impactante.  Estudos comprovam que essa transição pode reduzir em até 70% as emissões de gases de efeito estufa associadas à produção de alimentos e diminuir significativamente a pressão por desmatamento (Poore & Nemecek, 2018).  Além disso, iniciativas como os mercados de produtos orgânicos e agroecológicos, que fortalecem cadeias de consumo local, geram renda para pequenos produtores e reduzem a pegada de carbono do transporte (IFOAM, 2020).

A economia circular é outro eixo transformador, já em prática no Brasil e no mundo.  Empresas como a Braskem têm liderado a produção de bioplásticos a partir do etanol da cana-de-açúcar, criando uma alternativa sustentável ao plástico derivado do petróleo.  Esses produtos não apenas reduzem os resíduos plásticos, mas também geram novas oportunidades econômicas, demonstrando como a inovação tecnológica pode ser aliada da sustentabilidade (Braskem, 2022).

Por sua vez, iniciativas de reciclagem e reuso de embalagens, como as promovidas por grandes redes varejistas no Brasil, são exemplos de como o fechamento do ciclo produtivo reduz o desperdício e promove uma economia regenerativa (Ellen MacArthur Foundation, 2020).  A integração de práticas circulares com inovação tecnológica também é observada no setor de construção civil, com a utilização de biomateriais para substituir insumos convencionais de alto impacto ambiental.

A força do conceito de ecosociobiotecnomia está em sua capacidade de conectar ciência, tecnologia e sociedade em uma abordagem que não apenas reconhece, mas atua sobre as interdependências entre esses sistemas.  Ela representa uma evolução teórica e prática para superar os desafios globais, promovendo equilíbrio entre prosperidade econômica, justiça social e regeneração ambiental.

Essa abordagem integradora é fundamental para responder às demandas contemporâneas, especialmente no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).  A ecosociobiotecnomia destaca-se como uma estratégia viável para alcançar o ODS 12, de Consumo e Produção Sustentáveis, e o ODS 13, de Ação Climática, oferecendo soluções tecnológicas e sociais que já estão demonstrando seu impacto.

Ao adotar práticas como a bioenergia de segunda geração, sistemas agroflorestais, bioplásticos e economias circulares, a ecosociobiotecnomia comprova que o progresso tecnológico não precisa ser inimigo da sustentabilidade — ao contrário, pode ser sua maior aliada.  O desafio agora é ampliar a escala dessas iniciativas, engajando governos, empresas e indivíduos em uma transição global que transforme paradigmas de consumo e produção.

A ecosociobiotecnomia é um conceito que emerge como uma evolução das dimensões do desenvolvimento sustentável propostas por Ignacy Sachs, incorporando suas bases fundamentais e ampliando-as para responder aos desafios contemporâneos.  Sachs destacou a necessidade de um desenvolvimento equilibrado, integrando aspectos econômicos, sociais, ambientais, espaciais, culturais e políticos.  A ecosociobiotecnomia mantém essas premissas, mas as conecta diretamente à inovação biotecnológica, transformando os recursos naturais em soluções regenerativas, inclusivas e economicamente viáveis.

No campo econômico, Sachs defendia a eficiência no uso dos recursos e a busca por crescimento que não sacrificasse o equilíbrio ambiental e social.  A ecosociobiotecnomia eleva esse princípio ao incorporar modelos econômicos regenerativos, como a economia circular, que reaproveita materiais e resíduos, e a bioeconomia, que transforma recursos biológicos em produtos de alto valor agregado.  Um exemplo prático é a produção de bioplásticos a partir do etanol da cana-de-açúcar, que reduz a dependência do petróleo e abre novas oportunidades de mercado sustentável.

No aspecto social, Sachs enfatizava a justiça e a inclusão, garantindo que os benefícios do desenvolvimento chegassem a todas as camadas da sociedade.  A ecosociobiotecnomia aprofunda essa dimensão ao integrar comunidades locais e tradicionais como agentes centrais de transformação.  Essas comunidades, com seus saberes e práticas, são fundamentais para o manejo sustentável dos recursos naturais.  Um caso emblemático é a extração sustentável de óleos essenciais na Amazônia, realizada por povos indígenas e populações tradicionais, que combinam tradição e inovação para criar cadeias produtivas inclusivas e ambientalmente responsáveis.

A preservação ambiental, para Sachs, era um dos pilares do desenvolvimento sustentável, reconhecendo os limites planetários e a necessidade de proteger a biodiversidade.  A ecosociobiotecnomia não apenas mantém esse princípio, mas o expande ao propor a regeneração dos ecossistemas por meio de tecnologias avançadas.  Exemplos incluem o uso de bioinoculantes para recuperar solos degradados e a conversão de resíduos agrícolas em bioenergia, práticas que aliam inovação tecnológica à recuperação ambiental.

Sachs também destacava a importância de equilibrar as dinâmicas espaciais, promovendo a distribuição equitativa de oportunidades entre áreas urbanas e rurais.  A ecosociobiotecnomia responde a essa necessidade ao valorizar o potencial econômico e ambiental de regiões como a Amazônia, incentivando o desenvolvimento local por meio de sistemas agroflorestais que combinam práticas tradicionais com ciência moderna.  Essas iniciativas não apenas criam economias regionais sustentáveis, mas também ajudam a manter a floresta em pé.

A dimensão cultural, segundo Sachs, é central para garantir que o desenvolvimento respeite e valorize as identidades locais.  A ecosociobiotecnomia reconhece a riqueza dos saberes tradicionais e os integra à biotecnologia para criar soluções que respeitem as especificidades locais.  A utilização de plantas medicinais amazônicas, como o uso do açaí em cosméticos e alimentos funcionais, é um exemplo de como ciência e tradição podem caminhar juntas.

Por fim, Sachs defendia a necessidade de uma governança política participativa e transparente para assegurar o sucesso das iniciativas de desenvolvimento sustentável.  A ecosociobiotecnomia reforça essa perspectiva ao propor políticas públicas que promovam um ambiente regulatório favorável à inovação bioeconômica, garantindo que as comunidades envolvidas participem das decisões.  Um exemplo é a implementação de processos consultivos em projetos de conservação e exploração sustentável da biodiversidade.

Ao integrar todas essas dimensões em uma abordagem unificada, a ecosociobiotecnomia não apenas incorpora as ideias de Sachs, mas também as adapta e as amplia para os desafios do século XXI.  Ela conecta progresso tecnológico, justiça social e regeneração ambiental em um modelo que transcende a conservação, promovendo uma transformação global rumo à sustentabilidade.  Dessa forma, a ecosociobiotecnomia se apresenta como uma evolução natural do desenvolvimento sustentável, oferecendo caminhos concretos para equilibrar prosperidade econômica, diversidade cultural e preservação ecológica em um planeta sob pressão.

*José Luiz Gondim dos Santos. Mestre em Ciência da Saúde e Ciências Jurídica. Gestor de Políticas Públicas, advogado especialista em Constitucional, Mudanças Climáticas e Negócios Ambientais.

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