A preservação da floresta amazônica passa por atividades produtivas sustentáveis que possam gerar oportunidades e renda aos seus moradores. Um dos caminhos possíveis para gerar desenvolvimento econômico sem a destruição do meio ambiente é a exploração do potencial natural da grande diversidade de plantas da região para a fabricação de remédios e cosméticos.
Antônio Francisco dos Santos Puyanawa, de 68 anos, conhecido no Vale do Juruá como Francisquinho, tem dedicado a sua vida para conhecer o potencial medicinal da plantas da Amazônia. Montou um laboratório na sua casa em Rodrigues Alves e, mais recentemente, criou a marca Alquimia da Floresta para comercializar os seus remédios, que são considerados naturais pela Anvisa.
Mas, junto com as suas filhas Júlia, que é biomédica e Marbelita, bióloga, e também do seu filho André, que é engenheiro florestal, luta para alcançar mais um grau de regularização para que os seus produtos sejam considerados fitoterápicos.
Francisquinho morou em diversos lugares do Vale do Juruá. Nasceu no Seringal Nazaré, em Porto Walter, onde foi criado, e na juventude viveu na Aldeia Puyanawa, em Mâncio Lima. Posteriormente, se transferiu para o Meritzal, em Cruzeiro do Sul, até se estabelecer definitivamente em Rodrigues Alves.
“A minha pesquisa com as plantas começou quando eu era bem jovem. Morava em colocações na floresta e a maneira de curar as doenças que apareciam era por meio daquilo que a gente tinha disponível. Cascas de árvores, arbustos, raízes e uma infinidade de plantas. A gente fazia chá, garrafadas, xaropes e fui percebendo aquilo que dava resultado para a saúde humana”, relembra ele.
Apesar de atualmente as suas habilidades de alquimista serem reconhecidas por muita gente de outros estados e países que encomendam os xaropes, tinturas e garrafadas, ele prefere manter a humildade.
“Eu não falo em cura, mas em tratamento e se a cura vier é uma bênção. Ao longo da minha vida tomei gosto para trabalhar com as plantas. Fui testando misturas a partir do conhecimento tradicional. Fazia muitos testes e via os resultados. Quero ajudar as pessoas a encontrarem saídas para o sofrimento, porque muitas vezes elas não têm dinheiro para fazer um tratamento. Mas aqui comigo sempre foi assim, se tiver dinheiro leva, mas se não tiver leva também”, diz ele.
A criação da empresa Alquimia da Floresta é a maneira que Francisquinho encontrou com os seus filhos para poder ampliar os estudos das plantas medicinais e comercializar os produtos para outros lugares do Brasil e do exterior.
“É claro que para produzir esses remédios naturais eu preciso de recursos. Porque tenho que ir pra mata passar muito tempo para encontrar as plantas medicinais, fazer a limpeza e preparar o álcool de frutas e de folhas, que serve de base para os remédios”, conta.
Quando perguntado o quanto já investiu em alguns equipamentos para fazer extração das plantas e as misturas, ele responde que não tem a menor ideia.
“Todos os equipamentos foram comprados com recursos próprios, pouco a pouco, economizando daquilo que foi comercializado. A venda acontece para outros estados por meio de uma divulgação boca a boca. Muita gente vem procurar porque alguém fez o tratamento e deu resultado e assim divulgam para os outros”, lembra Francisquinho.
A Alquimia da Floresta está se tornando conhecida como uma alternativa à pesquisa da biodiversidade amazônica para a fabricação de remédios. A partir dos conhecimentos tradicionais dos moradores mais antigos da floresta é possível identificar plantas que sejam benfazejas para a saúde humana.
“Temos tido o apoio da Fundação de Tecnologia do Acre, a Funtac, no sentido da articulação com outras entidades como o Sebrae, com quem conseguimos recursos para melhorar o laboratório. A Funtac já realizou várias visitas ao nosso laboratório para a orientação das metodologias de trabalho”, lembra ele.
Para Francisquinho, a preservação da floresta permite uma gama de possibilidades para o empreendedorismo sustentável.
“Esse é um serviço que estamos prestando à comunidade. A planta viva na floresta tem mais utilidade do que acabar com tudo e fazer pasto pra boi. Essa atividade sustentável é muito mais rentável e benéfica. Se alguém estudar uma área de floresta nativa para retirar plantas medicinais e para cosméticos terá muito mais lucro do que criando gado”, analisa.
Francisquinho tem uma área de terra de 15 hectares na Gleba 13 de Maio, em Rodrigues Alves, de onde tira grande parte da matéria-prima para os seus remédios.
“Todos desmataram e eu preservei para retirar as plantas. Só fiz o manejo de duas quadras para o manejo de outras plantas medicinais que não tinham na minha área. Então, eu criei uma sementeira que é uma verdadeira farmácia viva”, ressalta.
O objetivo de Francisquinho é trabalhar fazendo a sua parte para a regeneração da floresta.
“Na verdade, estamos fazendo um Reflorestamento dessa área com plantas que estão em extinção na nossa região, como a copaíba, a cerejeira, o mogno, o molungu, o Sangue de Dragão, o jenipapo. Esse manejo produz sementes que garantem a existência dessas plantas no Acre”, destaca ele.
Entre tantos produtos da Alquimia da Floresta alguns se tornaram mais conhecidos. Entre eles o Tônico Regenerador, contra a anemia, e o anti-malárico, que segundo Francisquinho serve tanto para prevenir de contrair a malária quanto para expulsar a doença do organismo. Esse remédio é feito a base das plantas mangerioba, quina-quina, angico e raiz do açaí.