O mais recente Boletim Epidemiológico Especial do Ministério da Saúde atualizou os números sobre o tratamento preventivo da tuberculose entre 2018 e 2023. No período, mais de 165 mil pessoas iniciaram tratamentos preventivos, com 2023 sendo o ano de maior destaque, registrando 42.539 casos, ou 25,7% do total.
São Paulo liderou os registros com 30,8% dos casos, seguido por Rio de Janeiro (11,4%) e Rio Grande do Sul (8,4%), evidenciando diferenças regionais que podem refletir fatores socioeconômicos e a capacidade local de vigilância em saúde.
Perfil das pessoas tratadas
A maioria das pessoas tratadas era do sexo feminino (51,8%) e se concentrava na faixa etária de 35 a 44 anos de idade. Em termos de raça-cor, a maior parte se autodeclarou parda (44,5%), o que sugere a necessidade de políticas que considerem as vulnerabilidades sociais para esta população.
A introdução do esquema terapêutico rifapentina + isoniazida (3HP) em 2021 representou um marco para a prevenção de tuberculose. Em 2023, 52,4% dos tratamentos utilizaram essa combinação, caracterizada por sua curta duração e menor toxicidade, contribuindo para uma taxa de 80,3% de conclusão – a mais alta entre os esquemas terapêuticos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde.
Impacto da pandemia e retomada
A pandemia de covid-19 teve um impacto inicial negativo na prevenção, causando a redução dos tratamentos em 2020, mas ainda no segundo semestre do ano, foi observada uma recuperação significativa de 17% nos cuidados preventivos.
Análise
Os números indicam avanços significativos na detecção e tratamento da infecção latente por Mycobacterium tuberculosis, alinhados à Estratégia pelo Fim da Tuberculose da Organização Mundial da Saúde. Contudo, desafios persistem:
Desigualdades regionais: as taxas de notificação e tratamento mostram que algumas regiões carecem de recursos para vigilância e diagnóstico.
Populações vulnerabilizadas: o alto número de interrupções nos tratamentos (18,8%) e a sub-representação de grupos como pessoas vivendo com HIV ou aids em certas regiões sugerem lacunas no alcance das políticas públicas.
Sustentabilidade: o aumento na adesão ao esquema 3HP é promissor, mas a implementação deve ser sustentada por campanhas educativas e melhoria no acesso.
O boletim destaca um avanço na direção da eliminação da tuberculose no Brasil, mas reforça a necessidade de esforços contínuos para equidade no acesso ao tratamento, fortalecimento da vigilância e redução das desigualdades sociais que perpetuam a vulnerabilidade à doença.
Ministério da Saúde