Noel, Natal e o chinelo no prego – Gontran Neto

 

Sabe Noel, você que é imortal, 
já despertou sentimentos positivos nos brutos, 
já causou decepção naqueles 
de sentimentos puros,
mas sempre é motivo de 
comemoração do 
nascimento do menino Jesus, 
lembra dele, Noel? 
vou avivar,
Aquele que nasceu na Palestina, 
hoje destruída e massacrada, 
as crianças sem lar, sem pai, sem mãe, 
sem escolas, sem hospital, sem irmão, 
sem comida, sem presente
sem água, sem vida, 
sem Palestina, sem Noel, Sem Natal
sem Papai Noel, 
sem Jesus.
Mas, Noel,
sei que você proveio de São Nicolau,
que com generosidade fez nascer uma data para confraternizar,
trocar presentes,
Sabe a crença?
o mundo contemporâneo transformou
em fanatismo, sorrindo.
Noel, tu lembras,
Que para ser presenteado nos primórdios
as crianças deixavam um calçado fora da casa?
deste então,
quem padecia era quem andava descalço,
sem teto
sem sapado, chinelos com prego
e o único divertimento era o sorriso da inocência
com lágrimas nos olhos
de ver as crianças mais privilegiadas 
com seus presentes,
jogos educativos,
revólver de brinquedo e seus bichinhos engraçados,
suas dadivas, 
merecidas dádivas,
nas abençoadas e escolhidas classes.
Noel!
você que foi moldado para trazer alegria,
despertar nas inocentes crianças
a certeza de que junto com um pé de sapado
uma sandália, 
um chinelo com prego
debaixo da cama, a cama,
sem cama, 
precisava de outras camas,
acompanhava a esperança,
a certeza da felicidade
e conectado com o sorriso santo,
a euforia antes do sol nascer, 
o presente, 
o presente estava lá
o Papai Noel,
estava lá o presente,
sempre esteve,
bem em cima do belo sapado,
era meu, 
a sandália, sem prego, sem presente.
Papai Noel é bom
e não, não foi preciso 
colocar uma sandália sem prego,
não é preciso,
o sapado, o presente.
Mas, Noel,
inúmeras, milhares de crianças acordaram sorrindo,
dia 25, Natal, Noel e
com aquela sensação de contentamento
e na sua inocência, mas com frieza, com presente
desacredita que a vida não é desumana,
desigual.
E o soluço dos diferentes
 era o presente,
o chinelo, aquele preso com um prego,
estava lá, vazio, solitário,
o maldito chinelo com prego
foi o causador do presente que não chegou,
e ainda por cima
o miserável é o fiador,
o fiador
das lágrimas do meu pai.
Os filhos, sem presente,
os chinelos, o prego,
sem sapato,
sem presente,
o choro do pais sem presentes
as lágrimas caindo na cabeça dos moleques,
o abraço,
a esperança para o outro Natal,
o presente, uma chaminé, é isso,
a chaminé no lugar do jirau.
Sabe Noel,
Jesus Cristo?
Aquele que foi humilhado, massacrado,
torturado, cuspido,
ofendido,
que nasceu em Belém
na cidade da Palestina.
Lá, também não tem mais sapado,
Chinelo com prego, 
o maldito prego,
a casa, presente
a chaminé, o jirau, o presente,
não tem mais felicidade,
não tem mais crianças, esperança.
não tem mais, criança, presente.
É, Papai Noel! 
lá,
Negaram a festa do nascimento do menino Jesus,
não tem mais Natal, Papai Noel, presente.
chinelos com prego, 
o bendito prego de novo.
ah! maldito chinelo.
E eu, Noel?
Estou zangado contigo,
não, não é com sua barba branca,
até gosto, tenho uma assim
mas, com sua ausência, 
quantos estão ausentes? 
não, você não pode.
Sua omissão,
faça algo, Noel
a esperança, a guerra.
Morte, a Palestina,
a terra santa, viva,
bombas, armas, destruição,
a poderosa terra santa, Jerusalém,
a Palestina, coitada,
ressuscite, Noel, Natal, Jesus.
Acabe com esse sofrimento,
Puna os opressores e
não os oprimidos.
E por fim,
Noel,
não estou enraivecido
com você ter me presenteado, mais uma vez,
com a Covid-19,
não estou furioso por
passar o Natal isolado, sozinho,
eu, a cama, tem cama, 
o cobertor, a solidão,
Papai Noel,
mas decepcionado, irado,
com você Noel, Papai,
e o Natal, sem Natal,
aqueles
sem sapatos,
com chinelos no prego
e sem chaminé para
você, Noel, descer,
o chinelo, o prego
o bendito chinelo no prego,
a lhe esperar.

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