A qualificação da mão de obra ainda é um dos desafios da economia brasileira. A transformação do mercado ocasionada, sobretudo, pelo uso de novas tecnologias segue impondo a necessidade de investimentos em formação, qualificação e requalificação profissional.
Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, até o fim do próximo ano, o Brasil precisará qualificar 9,6 milhões de trabalhadores em ocupações industriais.
Com o intuito de dar suporte às empresas locais, e apoiar inciativas que possam ampliar oportunidades, gerar emprego e renda, o governo do Estado do Acre, por meio da Agência de Negócios do Estado (Anac), em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai/DR/AC) promove cursos gratuitos de qualificação profissional nas mais diversas áreas.
Ao longo de 2024 foram realizados cursos sobre Normas Reguladoras (NRs) com foco na Segurança no Trabalho em Altura, Máquinas, Equipamentos e Caldeiras; Assistente de Recursos Humanos e Processos Administrativos de RH e Departamento Pessoal.
Nesta reportagem especial, a equipe de Comunicação da Anac busca mostrar como a iniciativa tem impactado a vida dos trabalhadores beneficiados.
Era uma tarde de terça-feira. O sol estava se pondo quando chegamos ao Instituo Senai, no Distrito Industrial de Rio Branco para ouvir alunos dos cursos gratuitos ofertados pela Anac em parceria com o Senai.
No local, a equipe foi recebida pela Coordenação Pedagógica. Minutos depois, Luana Lima desembarcou para mais uma noite de aula presencial.
Com brilho no olhar, sorriso aberto, Luana era a expressão da alegria de quem chegava para mais um momento de interação e aprendizagem. A distância, o horário, a dificuldade de locomoção, nada parecia obstáculo.
Aluna do curso de Assistente de Recursos Humanos, Luana nasceu em Rio Branco e quando atingiu a maioridade decidiu ir morar fora do Acre. Em 2017, aos 22 anos de idade foi atingida por uma bala perdida e ficou tetraplégica. “Antes disso eu trabalhava como diarista, fazendo serviços domésticos, depois disso passei a receber um benefício, e foi depois que fiquei cadeirante que eu quis estudar”, revelou Luana.
Determinada, Luana concluiu o Ensino Médio e ingressou na faculdade de Ciências Contábeis, mas no terceiro ano do curso teve que interromper os estudos, devido a dificuldades financeiras. Quando por meio de uma rede social ficou sabendo dos cursos gratuitos ofertados pelo governo em parceria o Senai, decidiu se matricular. “ O primeiro que fiz foi de Processos Administrativos de Recursos Humanos e Departamento Pessoal, terminei e já passei pro de Assistente de RH. Achei superinteressante, são cursos ótimos, caros, então aproveitei a oportunidade”, disse.
Segundo Luana, mesmo sendo na área de RH, o conteúdo engloba grande conhecimento: “ Aqui não apenas temos aula, recebemos dicas, construímos vínculos. Hoje, por exemplo, quando tiver que ir a uma entrevista de emprego, enfrentar um concurso público, estarei melhor preparada”.
De forma híbrida, os cursos acontecem com aulas presenciais duas vezes por semana, e complementação da carga horário no ambiente virtual de aprendizagem. “O que mais gosto é da interação e motivação durante os encontros presenciais”, enfatizou Luana, que já planeja fazer novos cursos retomar os estudos na faculdade, e conquistar uma boa vaga no mercado de trabalho.
Olhando para o futuro Beatriz Silva também transforma desafios em oportunidades. Natural de Rio Branco, Beatriz passou a infância na Vila Albert Sampaio, de onde depois a família mudou para morar no bairro Apolônio Sales, na parte alta da cidade.
Ainda jovem, aos 15 anos, ela começou a trabalhar vendendo bolos de pote em uma universidade local. Depois passou a vender lingerie e, neste ano, ao atingir a maioridade, conquistou o primeiro emprego como atendente de telemarketing, função que desempenhou por um período, trabalhando depois como margarida, em substituição a uma trabalhadora que estava em férias.
Ao tomar conhecimento dos cursos gratuitos no Senai decidiu se inscrever no curso de Assistente de RH. Pelo menos duas vezes por semana, ao final do dia, Beatriz cruza a cidade para ir às aulas presenciais. Segundo ela a gratuidade do curso tem sido fundamental para que ela possa aproveitar a oportunidade de qualificação. “O curso gratuito é importante para inserir e dar novas oportunidades a jovens de periferia, um novo aprendizado, uma nova perspectiva, novos sonhos”, avaliou.
Mãe de uma menina de 8 anos, atualmente Beatriz está noiva e se organiza para oficializar a nova união. O noivo maior incentivador. “E não quero parar de estudar”, planeja.
Ainda conforme o Mapa do Trabalho o estado do Acre precisará qualificar 11,8 mil pessoas em ocupações industriais, sendo quase 9 mil em formação inicial – para repor inativos e preencher novas vagas – e 2,8 mil em formação continuada, para trabalhadores que devem se atualizar.
A Projeção aponta que, desse total, quase 9 mil já têm uma formação ou estão inseridos no mercado de trabalho, mas devem se atualizar. Outros 2,8 mil precisarão de formação inicial. As áreas da construção, logística e transporte, metalmecânica, madeira e móveis, automotiva, telecomunicações, tecnologia da informação e gestão estão entre as de maior demanda por formação inicial e continuada.
E com objetivo de atender as demandas apresentadas pelas empresas locais, no próximo ano, a parceria Anac e Senai continua com a oferta de cursos de Eletricista de Redes de Manutenção de Energia, Instalação Hidráulica, Normas Reguladoras, Instalação de Sistemas Elétricos Prediais e Informática, entre outros. Um investimento total de R$ 276.332,00, recurso oriundo de emendas parlamentares estaduais e contrapartida na Anac, beneficiando ao todo 500 trabalhadores de empresas da capital e interior do estado.
“Para nós, da equipe de governo, é sempre uma satisfação e alegria ver ações como essas transformando a vida das pessoas, que é o que sempre nos pede nosso governador Gladson Cameli. Um investimento de pouco mais de R$ 200 mil, alcançar 500 pessoas, considerando o custo benefício, avaliamos que é enorme o ganho, para essas pessoas e suas famílias, para a sociedade, o mercado de trabalho. A expectativa é que no próximo ano possamos fazer ainda mais”, enfatizou a presidente da Anac, Waleska Bezerra.