Foram cinco anos de espera até a concretização de um sonho coletivo: a retomada dos transplantes renais na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), em Rio Branco. As primeiras quatro cirurgias foram efetuadas em novembro, selando o compromisso do governo do Estado em continuar cuidando das pessoas ao longo dos últimos anos, mas especialmente em 2024, período em que a Saúde foi priorizada ainda mais pela atual gestão.
O primeiro paciente a passar pelo transplante renal neste ano foi Ducival Arcanjo, de 51 anos. Morador de Epitaciolândia, fez hemodiálise pelo período de três anos, mas sempre manteve a fé de que não apenas seria transplantado em sua terra natal, como seria o primeiro. “Eu tinha policistos nos rins e um dia desmaiei; minha esposa me levou para fazer exames e eles apontaram que eu estava com um problema renal. Assim começou a minha luta com o tratamento. Foram oito meses antes de iniciar a hemodiálise e, assim, passaram-se três anos, até chegar o dia do meu milagre, quando fui transplantado e hoje estou muito grato a Deus, ao governo, que me deu condições de fazer meu transplante aqui no estado. Eu já ia fazer a minha cirurgia em Porto Alegre, mas Deus falou comigo que eu ia passar pela cirurgia aqui no Acre mesmo e eu disse pra doutora [Jarinne Nasserala, nefrologista] que eu seria o primeiro paciente renal a ser transplantado quando voltassem a operar aqui e assim aconteceu”, comemora.
Agora iniciando uma nova fase, com mais saúde, graças à generosidade de uma família doadora que, mesmo em meio à dor da perda de um ente querido, aceitou doar o órgão e pôde ressignificar o momento de luto, Ducival faz um apelo: “Vocês não têm noção [do que é] mudar a história e a qualidade de vida de uma pessoa. Isso não tem preço que pague. Quando nós passarmos a ser doadores de órgãos aqui no estado, muitas pessoas terão oportunidade de ter uma vida longa, sem estar três dias [por semana] na máquina, no sofrimento. Essa é a mensagem que quero deixar: que nós, como acreanos, possamos ser doadores de órgãos”.
Somente neste ano, a unidade já realizou, além dos quatro transplantes renais, 16 transplantes hepáticos e outros 42 transplantes de córnea, sendo este último um número recorde no estado nos últimos 15 anos.
“Também estamos pleiteando junto ao Ministério da Saúde a habilitação para o transplante de tecido ósseo, que será muito importante em diversos casos, como, por exemplo, quando há fraturas graves, deformidades congênitas ou em casos de doenças que afetam o osso, como alguns tipos de câncer. O objetivo é ajudar na recuperação da estrutura óssea, promovendo a cura e permitindo que o osso cicatrize ou se regenere corretamente. É um grande ganho para o nosso estado, um sonho que se tornará real em breve”, ressaltou a coordenadora do Serviço de Transplantes da Fundhacre, Valéria Monteiro.
As cirurgias de transplante de órgãos estão entre as mais complexas realizadas na Fundhacre. Sobretudo com o centro cirúrgico funcionando 24 horas por dia, os resultados são ainda mais expressivos em diversos outros tipos de cirurgias.
A chefe do Centro Cirúrgico da Fundhacre, Keiciane Oliveira, ressalta as qualidades observadas na unidade. “Nós temos uma boa equipe e uma gestão muito parceira, que proporciona um centro cirúrgico bem equipado e pronto para lidar com uma diversidade de casos. Ainda estamos compilando os dados dos últimos dois meses, mas até outubro deste ano, já alcançamos a marca de 4.595 cirurgias, o que representa uma evolução enorme diante do número de cirurgias realizadas em relação a todo o ano anterior. Começamos o ano com cinco salas cirúrgicas abertas e finalizamos com oito, o que permitiu ampliar o número de cirurgias”, afirma.
Com o avanço da abertura das novas salas, no entanto, aumenta a demanda por leitos clínicos e de unidade de terapia intensiva (UTI), por isso, a gestão da Fundhacre, com o apoio fundamental da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), inaugurou a nova ala de UTI do complexo hospitalar. Em outubro, foram entregues 2,2 milhões em equipamentos hospitalares e de informática. Uma parte desses materiais, financiados por meio de emendas dos senadores Alan Rick e Marcio Bittar, foi utilizada na nova UTI, inaugurada no dia 11 de novembro com dez novos leitos pós-operatórios.
Na oportunidade, o governador Gladson Cameli reforçou a importância da nova UTI para continuar salvando vidas. “Isso mostra todo o comprometimento da equipe, que nos ajuda a realizar ações como essa, porque a vida não pode esperar. Aquilo que estiver dentro das nossas possibilidades vamos fazer, para poder sempre colocar o Estado próximo das pessoas que mais precisam. A nossa Fundação Hospitalar tem assumido a missão de salvar vidas”, destacou o governador.
A presidente da Fundhacre, Sóron Steiner, completou dizendo que a abertura desses novos leitos impacta direta e principalmente na celeridade de cirurgias eletivas por serem pós-operatórios. “Temos pacientes de alta complexidade aguardando nessa fila cirúrgica e que demandam leitos de UTI de retaguarda. Então, essa entrega vai garantir que casos mais complexos sejam atendidos aqui na Fundação Hospitalar, e que a nossa taxa de suspensão de cirurgias seja reduzida a zero”, garantiu.
Dedicar-se à saúde exige tempo e paciência, e, para tornar esse período de autocuidado mais fácil, a Fundhacre também otimizou o processo no Serviço de Atendimento Ambulatorial Especializado (Saae), ao implementar uma mudança que promete tornar o atendimento mais prático, rápido e eficiente para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o novo sistema de agendamento interno, desde o início de novembro os pacientes podem marcar retornos e exames no próprio ambulatório logo após a consulta, sem a necessidade de ir até o saguão principal enfrentar uma nova fila. “Estamos passando por várias mudanças para melhorar a experiência dos nossos pacientes”, ratifica a coordenadora do Saae, Átila Marinheiro.
Para Karolayne Lima, moradora da zona rural de Epitaciolândia, interior do Acre, a mudança fez diferença. “É a primeira vez que a gente vem, mas a gente achou bem ágil. Toda a trajetória lá da frente até aqui dentro não demorou nem um pouco. Ainda mais que meu vô tem mobilidade reduzida, então não precisamos ficar indo e voltando”, aprovou Karolayne, que esteve na Fundhacre acompanhando o avô em uma consulta.
Assegurando que os pacientes tenham mais praticidade no acesso aos serviços, a mudança faz parte de um conjunto de ações promovidas pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) e Fundhacre, para aprimorar o atendimento público de saúde, em especial no maior complexo hospitalar do estado e referência em transplantes na Região Norte.
A Oficina Ortopédica Itinerante foi reativada este ano pelo governo do Estado. Os primeiros atendimentos foram efetuados de 5 a 7 de novembro em Brasileia, durante a última edição de 2024 do programa Saúde Itinerante Multidisciplinar especializado em neuropediatria.
Foram 60 atendimentos especializados em ortopedia, com prescrição para confecção de próteses, órteses e palmilhas adaptadas, proporcionando um acompanhamento mais próximo aos pacientes que residem na região, evitando que os usuários precisem se deslocar até a capital em busca de atendimento.
Crianças com transtornos do espectro autista (TEA), dislexia e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), entre outras condições neurodivergentes, frequentemente enfrentam desafios específicos que vão além das questões cognitivas ou comportamentais. As necessidades físicas e ortopédicas dessas crianças exigem um olhar atento, tanto por parte da família quanto dos profissionais de saúde.
A presidente Soron Steiner, uma das impulsionadoras da Oficina Ortopédica Itinerante, avaliou positivamente, na ocasião, a iniciativa: “Vemos de uma forma muito positiva esse atendimento integrado, essa grande ação que foi realizada aqui na Regional do Alto Acre, principalmente na relação que existe entre o atendimento especializado em neuropediatria com equipe multi e o atendimento realizado pela nossa oficina ortopédica itinerante. Vivenciamos durante estes dias alguns casos de pacientes que apresentam demandas ortopédicas que conseguiram ser sanadas. Nós sabemos que as nossas crianças com suspeita ou já diagnosticadas com transtorno do espectro do autismo possuem algumas questões motoras relacionadas ao pé plano e marcha equina, o que gera uma demanda para oficina ortopédica fixa, localizada em Rio Branco. Então esse atendimento conjunto proporcionou um atendimento de forma integral, holística para esse paciente, fazendo com que ele já conseguisse, inclusive, sair com as suas medidas aferidas para poder confeccionar a sua órtese, o seu calçado ortopédico”.
Lucilene de Castro é mãe de Milena Vitória, de 10 anos, e falou sobre o atendimento. “A Milena tem paralisia cerebral e acabou apresentando algumas deformidades no corpo. A gente veio aqui para o atendimento da Oficina Ortopédica tirar as medidas dela por orientação de uma colega que avisou sobre o mutirão. Estamos muito satisfeitas, tiraram todas as medidas para fazer as órteses. Tá tudo nota dez”, afirmou.
Em setembro, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), entregou novos equipamentos ao Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) da Fundhacre, com um investimento de R$ 41,2 mil para reforçar os atendimentos.
Entre os materiais entregues estão aparelhos de laserterapia, sensores de raio-X digital, fotopolimerizadores e outros itens que irão melhorar a qualidade e a celeridade nos atendimentos odontológicos.
O CEO oferece consulta especializada, raio-X periapical, restauração, raspagem periodontal e aumento de coroa clínica, cirurgia oral menor, prótese total, obturação de canal e atendimentos de pacientes especiais.
O coordenador do CEO, Luiz Felipe Castelo, afirmou que, com os novos recursos, o setor, que realiza em média 1.660 procedimentos mensais, poderá aprimorar seu atendimento à população.
“Até 2021 tínhamos três consultórios e hoje temos oito. É interessante ver que as pessoas, principalmente as que precisam de prótese, chegam com bastante expectativa, e a gente procura responder a essa expectativa. Tivemos uma equipe do Ministério da Saúde fazendo uma pesquisa em meados de setembro e [os técnicos] elogiaram muito a qualidade da nossa prótese”, relatou.
Diminuir a demanda reprimida é um dos principais objetivos do governo do Estado na Fundhacre e, neste ano, a unidade alcançou uma importante conquista, ao zerar a fila de espera para a realização do teste ergométrico, um exame fundamental para avaliar a saúde cardiovascular. O exame é essencial para detectar problemas como arritmias, isquemias e para avaliar a capacidade do coração sob esforço físico.
É a primeira vez em dez anos que o teste passou a ser realizado em livre demanda, refletindo a crescente preocupação da população com a saúde do coração.
Outros exames que também tiveram suas filas de espera zeradas e são realizados mediante livre demanda são: punção aspirativa por agulha fina (Paaf), tireóide, videolaringoscopia, ligadura elástica de hemorroidas e eletroencefalograma sem sedação, ambos realizados no Serviço de Apoio Diagnóstico Terapêutico da Fundhacre. A meta é continuar diminuindo a demanda reprimida em 2025, dando mais celeridade às filas de espera.
Este ano também foi marcado pela realização de mutirões que devolveram a dignidade e a qualidade de vida aos usuários do SUS não apenas da capital, mas também do interior, que vão à Fundhacre para realizar uma série de cirurgias eletivas.
Um dos programas de maior destaque neste ano foi o Opera Mama, que oferece cirurgias de reconstrução mamária para mulheres que superaram o câncer de mama e passaram por mastectomia. Foram 19 cirurgias realizadas.
Raimunda da Silva, de 52 anos, foi uma das pacientes beneficiadas. Após descobrir o câncer em 2017 e superar o tratamento intensivo, incluindo quimioterapia e cirurgias, ela recebeu a reconstrução mamária, o que lhe proporcionou uma recuperação emocional significativa.
“Sei que Deus me deu minha saúde e que ele tem um grande propósito na minha vida. Nunca perdi minha fé, não tive medo, sabia que ficaria tudo bem. Agradeço de coração aos médicos que trouxeram minha autoestima de volta. Sabemos que, para nós mulheres, essa é uma questão muito delicada. Que eles continuem fazendo um trabalho maravilhoso com as mulheres que perderam a mama por causa dessa doença. Sou muito grata a toda a equipe”, afirmou.
A paciente Francisca Augusta Cândido, de 53 anos, moradora de Boca do Acre (AM), também compartilhou sua experiência. “Achei legal o atendimento, a cirurgia. Graças a Deus, porque eu tava com medo. A gente que é mulher, já sabe, né? Mas eles fizeram tudo do jeito que eu tava pensando. Era o que eu queria, tudo perfeito, tudo semelhante. Eu sempre me afetava, que eu não podia trabalhar, fazer minhas coisas em casa. Eu sou o tipo de pessoa que não pode estar quieta. Se eu ficar quieta, parada, eu adoeço. Quando me recuperar, vou voltar, se Deus quiser”, comemorou.
Outro mutirão que merece destaque foi o de cirurgias ortopédicas, que ainda está em andamento. Até o momento, foram 75 cirurgias. Entre os pacientes atendidos, João Henrique Costa, de 21 anos, celebrou a recuperação após uma reconstrução do joelho, destacando o alívio após um longo período de espera.
“Estou aliviado porque foi muito tempo esperando e agora posso voltar a ter uma vida normal, porque antes eu não podia fazer os esportes que praticava; eu gostava muito de jogar bola, basquete, capoeira, enfim, tanto que foi num desses esportes que acabei me machucando. A sensação agora é de alívio, não tem outra palavra”, disse o jovem, pouco antes de receber alta médica.
O mutirão é possível graças a uma emenda parlamentar de R$ 2 milhões do senador Alan Rick e inclui, além das cirurgias, o encaminhamento dos pacientes para fisioterapia.
Exames de imagem também são uma grande demanda na Fundhacre. Para diminuir essas filas, o governo do Estado deu início a um mutirão com a meta de realizar 14 mil exames variados, entre os quais endoscopia, eletroencefalograma com sedação, doppler arterial e venoso, ultrassonografia geral, eletrocardiograma com sedação e ecocardiograma. O investimento é de R$ 5 milhões, realizado por meio de emenda da deputada federal Socorro Neri.
Após um ano de intensos desafios, mas com resultados palpáveis, o governo do Estado, por meio da gestão da Fundhacre, projeta mais avanços para 2025. Uma das maiores conquistas para o próximo ano é a informatização do complexo hospitalar, que irá integrar os atendimentos a partir do prontuário eletrônico, por meio do qual os profissionais terão acesso a todo o histórico do paciente.
“Temos uma equipe muito compromissada em avançar na saúde pública e, graças a isso e ao apoio da Sesacre e governo do Estado, tivemos em 2024 grandes obras de readequação da nossa estrutura, com melhores ambientes de trabalho para os servidores e, claro, para os usuários. Em 2025 não será diferente. Estamos trabalhando para promover a modernização dos equipamentos, novos materiais para reforçar as cirurgias eletivas e melhorar a infraestrutura, não só na Fundhacre, mas nos serviços que ficam fora do complexo hospitalar, como é o caso da Oficina Ortopédica de Rio Branco, entre outros”, destaca a presidente Soron Steiner.
O diretor executivo, administrativo e financeiro da Fundhacre, Wanderson Bragança, reforça que, em 2024, houve melhorias de impacto na infraestrutura e que no próximo ano, novas melhorias deverão ser realizadas. “Foi um ano de muito trabalho, quando nossas equipes deram o melhor de si para ampliar nossa capacidade de atendimento, e isso inclui melhorias na infraestrutura. Além dos dez novos leitos de UTI já inaugurados, por exemplo, estamos em processo de estudo para ampliar ainda mais essa oferta, abrindo novas vagas no ano que vem, além de outras mudanças que irão impactar com certeza o bem-estar dos servidores, refletindo em uma melhor prestação do serviço”, frisa.
Novos serviços também devem ser habilitados em 2025. É o caso dos serviços de ostomia (procedimento cirúrgico que consiste na abertura de um pequeno orifício entre o órgão interno para o meio externo) e de cuidados paliativos, seguindo com o compromisso de cuidar das pessoas.
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