Há uma máxima da odontologia que afirma que a saúde e o bem-estar do corpo começa pela boca. Ciente desse princípio, o governo do Acre teve como meta, nos últimos anos, fortalecer, modernizar e expandir o trabalho do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), que funciona na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), em Rio Branco.
Ao todo, são 35 profissionais atuando na unidade, que tem, entre suas atividades principais, consulta especializada, raio-X periapical, restauração, raspagem periodontal e aumento de coroa clínica, cirurgia oral menor, prótese total, obturação de canal e atendimentos de pacientes especiais.
No começo de setembro, o CEO ganhou um reforço em aparelhos, totalizando um investimento de R$ 41,2 mil. Os materiais foram adquiridos por meio de verbas federais, além de recursos próprios da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), investimentos que se refletem na ampliação do alcance do serviço.
Entre os materiais entregues estão um aparelho de laserterapia, sensores de raio- X digital, fotopolimerizadores, destiladora de água, localizadores apicais para realização de canal endodôntico, equipos com cadeira portáteis, canetas de alta rotação e instrumentais diversos, além de oito computadores.
Para quem tem determinados problemas odontológicos, tarefas simples do dia a dia, como comer, por exemplo, tornam-se difíceis, conta Luiz Felipe Castelo, coordenador do centro, que atualmente é referência no estado.
“Até 2021 nós tínhamos três consultórios e hoje temos oito. É interessante ver que as pessoas, principalmente as que precisam de prótese, chegam com bastante expectativa e a gente procura responder a essa expectativa. Tivemos uma equipe do Ministério da Saúde fazendo uma pesquisa, aproximadamente um mês atrás, e [os técnicos] elogiaram muito a qualidade da nossa prótese”, relata.
Todos os meses são abertas vagas para todos os serviços disponibilizados no local. O primeiro passo é o paciente buscar uma unidade de saúde primária, onde, dependendo do caso, será encaminhada ao CEO. A equipe também faz ações pontuais no Hospital do Idoso e Lar Vicentino. Para Luiz Castelo, os investimentos nos últimos anos mostram como a atual gestão de Gladson Cameli garantiu avanços importantes para ampliar o atendimento.
Voltar a sorrir foi o que a Albia Machado, de 76 anos, conseguiu fazer após receber a prótese nova durante uma ação do centro no Hospital do Idoso. Hoje é difícil para ela não esboçar um sorriso ao fim de cada frase.
“Durante uma consulta estavam fazendo o cadastro para quem queria trocar próteses e a minha estava tão frouxa que eu não conseguia nem comer. Fiz minha inscrição, logo me chamaram e fui muito bem atendida. Todos os médicos foram maravilhosos e o doutor Luiz trabalhou com perfeição. Fiquei muito feliz, porque fiquei mais bonita e meus dentes ficaram lindos”, alegra-se Albia, agradecendo por poder acessar o benefício por meio do sistema público de saúde.
Só no ano passado foram 18.694 atendimentos, enquanto este ano, até agosto, foram 13.286. Atualmente, a média mensal é de 1.660 atendimentos, um aumento em relação ao índice do ano passado, quando foram 1.557 mensais.
André Isnard Albuquerque, de 32 anos, comparou o atendimento ao da rede particular. Para ele, o acesso a serviços de altos valores de forma gratuita representa o compromisso do governo com a qualidade da assistência. “Estou fazendo tratamento de canal e sendo bem atendido. Isso mostra que há qualidade no serviço público em atendimentos que, em consultórios particulares, sairiam bem caro, mas que aqui na Fundhacre ficam acessíveis a todos”, comemora.
Na era digital, o apoio a colegas de todo o estado também pode estar na palma da mão. O aplicativo TeleEstomat é uma ferramenta que faz com que o suporte do CEO chegue aos profissionais do interior. Trata-se de uma plataforma que permite aos odontólogos tirar dúvidas e analisar casos de forma coletiva.
A dentista Emiliana Guerra destaca ainda que manter a saúde bucal em dia é uma forma de prevenir problemas futuros. Sobre o time que compõe o CEO, diz que é formado pelos mais capacitados profissionais e a integração dos colegas é importante para garantir o bom atendimento.
“Imagina um paciente que está em Plácido de Castro e vai ao serviço de saúde básico com dor e possibilidade de perder aquele dente. Ao ser encaminhado para cá, fazemos todo o tratamento endodôntico dele e some a dor. Eliminamos um problema realmente sério de mastigação, fonação e todos os problemas futuros que causam a perda de um dente”, exemplifica.
Além de ser uma referência na qualidade do serviço, o CEO é o único que atende pacientes com necessidades especiais. Wilker Bonfá é um dos quatro cirurgiões dentistas com atendimento voltado para esse público, incluindo orientação, prevenção e intervenções em crianças e adultos que precisam de atenção diferenciada.
“Grande parte dos atendimentos a gente consegue fazer normalmente com a colaboração dos pais, conscientizados de que a saúde começa pela boca e também com cuidados de higiene. Mas há uma parte desses pacientes, adultos com necessidades especiais, que não permite fazer o procedimento, então a gente precisa levar ao centro cirúrgico e fazer com anestesia geral”, explica.
Bonfá diz ainda que o trabalho do centro também é educacional, tendo a missão de conscientizar a população sobre como a odontologia sempre está se reinventando.
“Sempre estamos abrindo novos campos de atuação, como é o caso de questões estéticas, mas também na saúde de forma geral, das bases biológicas. A odontologia também tem ocupado seu espaço e mostrado a importância com esses pacientes que, por exemplo, vão fazer transplantes ou que estão debilitados”, esclarece.
A presença de um dentista nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), para Wilker, é uma medida eficaz de evitar infecções graves nesses pacientes que já estão vulneráveis. Quem precisa fazer transplante também passa, obrigatoriamente, por uma avaliação odontológica, para que o procedimento seja feito sem intercorrências.
“É fundamental que as pessoas entendam a importância da saúde bucal e como ela pode interferir na saúde de uma forma geral”, reforça.
Maria Aurilene Araújo é mãe de Carlos Alexandre Filho. Aos 23 anos, o rapaz tem sensibilidade nos dentes por fazer uso de medicação controlada, devido a paralisia cerebral. Moradora do Ramal do Canil, em Rio Branco, traz o filho de seis em seis meses para a consulta.
“A maioria das pessoas que conheço que tem deficiência não têm mais a dentição, então tenho o cuidado constante de fazer esse acompanhamento com o pessoal do centro. Meu filho não tem uma mastigação completa, então ficam resíduos de alimento e a gente tem que fazer a limpeza constante”, explica.
Ter uma unidade com acesso gratuito, para Maria Aurilene, é “um suspiro” [de alívio], mais ainda por ser especializada, já que, segundo diz, outras unidades não atendem pessoas com necessidades especiais: “Aqui eles já têm as técnicas corretas e conseguem atender a gente muito bem”.
Ansiosa e com um volume significativo de pastas em mãos, a empregada doméstica Zuíla Melo aguardava ser chamada para fazer sua primeira avaliação. As expectativas eram altas em relação à desejada prótese.
Durante a espera, já sonhava com o novo sorriso. E contou que ainda aos 14 anos começou a perder os dentes e atualmente, aos 53, anseia por poder sorrir, pois, naturalmente, esse é um problema que afeta inclusive sua vida social. De máscara, disse que, com a aparência atual, tem vergonha de sorrir.
Após passar por diversas clínicas particulares e não conseguir arcar com a despesa de um implante dentário, Zuíla viu no CEO a oportunidade de mudar de vida e ter uma prótese que consiga atender suas necessidades. “O meu maior desejo é que eu possa sair e mastigar direito. A partir de agora, o meu sonho e minha ansiedade estão nesse ‘médico’, porque quero que ele realize meu sonho”, revelou.
Sobre o atendimento no CEO, entende que é substancial ter uma unidade que acolha as pessoas com essas demandas.
O técnico de prótese dentária Leonardo Nogueira trabalha há seis anos na unidade e informa que, por mês, são produzidas cerca de 20 próteses, número pode ser ainda maior. Em sua visão, mais do que um serviço de saúde, trata-se de um projeto social.
“Esse é um trabalho que não sai muito barato e a gente consegue abranger uma camada da população que não tem acesso ao particular. E é muito importante, até na questão da autoestima, já que o sorriso é a apresentação da pessoa. As pessoas que têm necessidade hoje de prótese nós temos uma capacidade muito grande de atender, e realmente é um trabalho muito gratificante poder levar esse trabalho para a saúde pública, porque a gente sabe que a meta aqui é produzir prótese e poder contribuir com a saúde pública gratuita”, analisa.
A Política Nacional de Saúde Bucal do governo federal, também conhecida como Brasil Sorridente, foi incluída na Lei Orgânica da Saúde pela Lei 14.572/23, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil Sorridente oferece serviços odontológicos gratuitos em unidades básicas de saúde (UBSs), unidades de saúde da família (USFs), postos de saúde e unidades odontológicas móveis (UOMs). Em casos mais complexos, os procedimentos são realizados em centros de especialidades odontológicas (CEOs) e hospitais.
Para o governador Gladson Cameli, os números e os resultados apresentados em sua gestão aumentam ainda mais a responsabilidade em garantir esse direito a todos. “Meu compromisso como governador, e cobro isso da minha equipe, é que o serviço público ofereça a mesma qualidade que o particular. São direitos garantidos por lei, mas que a gente sabe que desafiam a gestão, então vendo um centro que atende não apenas o Acre, mas países e estados vizinhos, sendo referência, me dá um sentimento de dever cumprido, ao mesmo tempo que me dá gás para melhorar ainda mais esse serviço”, destaca.
Este ano, foi pedida pela direção da unidade a mudança de qualificação do CEO tipo II para o tipo III, pois com isso o repasse aumentaria de R$ 48,2 mil para R$ 98,4 mil, que seriam empregados na contratação de novos servidores e aquisição de equipamentos modernos.