“As pessoas já zombavam. Eu chamo isso de zombação, gozação, né? Porque não era só eu que era, assim, como se fala, analfabeto. Aí o nosso supervisor, ele colocava lá, né? Promoção, preços baixos. Aí quando eles colocavam as plaquinhas, que era nós mesmos que colocávamos as placas, né? Eu colocava as placas. Aí ele chegava e dizia, leia isso aqui pra mim. Como é que eu vou ler tudo isso aí? Eu não sei ler, ele dizia: Mas tu é muito burro, né?” Enfatizou, José Marinho Cassiano.
O estado do Acre avançou na alfabetização e reduziu o índice de pessoas que não sabem ler. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou no mês de Maio, dados de que no estado havia 608 mil pessoas de 15 anos ou mais de idade, das quais 535 mil sabiam ler e escrever o básico e apenas 73 mil não sabiam. Ainda de acordo com os dados do IBGE, a taxa de alfabetização foi 88% em 2022 e, consequentemente, a taxa de analfabetismo caiu de 16,5% para 12%.
Sem dúvidas os programas e incentivos na Educação contribuem para aumento na taxa de alfabetização no Acre.
Os esforços para propor uma educação de qualidade não cessam, afinal de contas é um direito de todos ter acesso à Educação. De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, estabelece que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Parece insano alguém não ter tido a oportunidade de estudar, mas não se engane, por vários motivos, não ter concluindo o ensino fundamental é a realidade de muitas famílias. Já parou para pensar o quão é difícil a vida de uma pessoa que não sabe ler, não saber escrever o próprio nome. Ter chegado na fase adulta e ser humilhado, constrangido e sentir na pele a dor de se perder no caminho de volta para casa?! “Eu peguei muitos ônibus errados, muitos. Uma vez eu peguei um ônibus daqui do terminal pra ver, pra ir para o panorama. Peguei o ônibus errado para o Alto alegre, Adalberto Sena. Hoje em dia eu não pego mais. Eu não pego. Eu chego, olho, não, não vou mais. Não é esse que eu quero, é outro.” Lembrou Cassiano.
“Educação não transforma o mundo, educação muda pessoas. Pessoas. Transformam o mundo” – Paulo Freire
Um dos mais importantes programa de ensino para reverter o analfabetismo no estado é a Educação de Jovens e Adultos (EJA). O número de alunos matriculados na EJA podem variar ano após ano. No ano passado (2023) foram 14.496 alunos matriculados.
O chefe do Departamento de Educação de Jovens e Adultos, Jesse Dantas, falou sobre a importância da educação, dando destaque aos números de alunos matriculados neste ano. “ A educação de jovens e adultos hoje no estado do Acre, ela está sendo ofertada em 114 escolas, onde temos mais de 15 mil alunos sendo atendidos. Além das escolas, também atendemos as pessoas que estão privadas de liberdade dentro do estado e também estamos atendendo ao programa de alfabetização Alfabetiza a Crieja, que atende a população acima de 15 anos que não foi alfabetizada na idade recomendada e hoje estão tendo uma segunda oportunidade para retornar às escolas. A nossa equipe do Departamento da Educação de Jovens e Adultos, sob a orientação do secretário Aberson, estamos sempre buscando qualificar a educação de jovens e adultos com a inclusão de cursos profissionalizantes, preparando esses cidadãos para o mercado de trabalho, que é um dos pilares da educação de jovens e adultos, é a formação para o mundo do trabalho e a cada vitória que os nossos alunos conquistam, para nós, é um sentimento de muita alegria e com muita emoção.”
José Marinho Cassiano, nascido em Cruzeiro do Sul, idade 40 anos, conheceu a EJA na capital acreana, aos 34 anos.
Foram 6 anos no processo de formação, do Pré da EJA até a sua conclusão do Ensino Médio. Seu José compartilhou que passou por alguns constrangimentos, porém, foi incentivado a estudar e enfrentar todos os desafios possíveis até a sua formação. Um dos dias mais dolorosos para Cassiano, foi o dia em que pediu demissão por sofrer preconceito por parte de seu antigo patrão. Ele compartilhou como foi esse momento: “O meu patrão disse, cadê o neném que já comprou a lancheira? A criancinha já comprou a lancheira para levar a merenda para a escola? Aquilo ali me doeu. Eu fui e cheguei para ele e disse: é o seguinte, eu vou ter que sair mais cedo, porque eu tenho um compromisso agora com a minha escola, não é isso? Então, você vai sair o mesmo horário que os outros, ou vai sair mais cedo para fazer o lanche. Meus estudos são mais importantes. Aí eu cheguei na loja, eu quero as minhas contas. Não, eu digo, não quero. Mas por quê? Eu digo, porque eu vou estudar. Sério, tu vai estudar? Eu vou estudar. Eu fui embora, mas aquilo ali foi assim, para mim, um alívio.”
Seu José demostrou sentimento de gratidão por todo aprendizado que desenvolveu em sua formação. Elogiou a gestão da Escola Berta Vieira de Andrade, localizada no Bairro São Francisco, parabenizou a Gestão da Escola na Pessoa do Glauco e especial a professora Stefany, destacou:” A gente se identificou mais com ela, o jeito dela ensinar a gente. Ela foca naquilo ali, e o conselho, falava pra nós que a gente ia conseguir. Ela passava confiança que ela passa para a gente. Então a Stefany para mim é uma inspiração.”
Para professora Stefany Nascimento é motivo de muita alegria fazer parte do processo de aprendizado dos alunos. “Fazer parte da história dessas pessoas é extremamente gratificante, não só poder contribuir profissionalmente, mas para a história de vida dessas pessoas, saber que de alguma maneira a gente fez a diferença. Isso traz contentamento e alegria. Poder encontrar esses alunos depois do mercado de trabalho, poder encontrar esses alunos depois de um emprego melhor, poder encontrar esses alunos depois fazendo uma faculdade, encontrar esses alunos depois que conseguiram engajar o negócio que eles já tinham, isso pra gente é uma alegria, porque esse é o ideal de todo professor, saber que esses alunos conseguiram melhorar de vida, que eles conseguiram realizar ações.”
Em 6 anos, a vida de Jose Cassiano, mudou radicalmente, concluiu o Ensino Médio; Através do curso profissionalizante ofertado pela EJA, formou em curso profissionalizante na área de administração e resgatou o sonho de Empreender: “Estou com os planos aí. Vou colocar uma oficina para mim…”
Com expectativa de se formar em Engelharia Elétrica, realizou sua inscrição para o Enem 2024, José Marinho compartilhou o sonho de se formar em Engenharia Elétrica: Deu tempo de se inscrever no Enem. Eu digo, então é mais uma vitória, né? Mais um caminho que eu vou ter que vencer. Eu quero mais. A faculdade, eu tava pensando na engenharia, engenharia elétrica. Destacou o sonho com sorriso.
Manoel de Jesus, Chefe da Divisão de Ensino da EJA, destaca o calendário de matricula para aqueles que desejem iniciar ou concluir seus estudos. “A EJA tem matrículas duas vezes por ano, porque a EJA funciona de maneira semestral. No início do ano tem uma matrícula para o primeiro semestre e no meio do ano tem a matrícula para o segundo semestre.”
Exemplos de superação como o caso de José Marinho Cassiano, demostra que a Educação nunca perde o poder de transformar vidas, independentemente das circunstâncias ou idade. Ao concluir sua jornada na EJA, José não apenas alcançou o sonho de retomar os estudos, mas também provou que a força de vontade e o desejo de aprender podem abrir novos caminhos, como por exemplo um empreendimento e no futuro uma formação acadêmica.
Agradecemos a José por compartilhar sua historia e inspirar tantas outras pessoas que, assim como ele, acreditam que sempre é possível recomeçar e construir um futuro melhor por meio da educação.